Elas estão desconfiadas

Bolsos, carteira, celular, conta de telefone, agenda e até a fatura do cartão de crédito são pistas em potencial. Qualquer deslize do suspeito pode estar registrado e o que era apenas um objeto de uso pessoal vira prova de um crime. Com muita perspicácia, ela não deixa passar nenhum detalhe e dia após dia tem a esperança que, finalmente, irá dar o flagrante no suposto meliante. Mistura de Sherlock Holmes com Heloísa, a descontrolada e ciumenta personagem de Giulia Gam em “Mulheres Apaixonadas”, a namorada desconfiada já é folclore nas rodinhas de amigos. Adepta do lema “atire primeiro, pergunte depois”, a menina, na maioria das vezes, não tem motivo concreto para desconfiança, mas leva ao pé da letra o ditado da vovó que diz que todo homem não presta e que merece uma dura.

Barracos, discussões e roupas rasgadas – literalmente – são rotina no namoro da tradutora Clarissa Coutinho. Helô, como é carinhosamente chamada pelas amigas, confessa que para ela todo homem é culpado até que consiga provar o contrário. Uma vez, gravou o telefone de uma amiga no celular do namorado porque estava sem papel para anotar. Dias depois, ao fazer a verificação no aparelho de Leandro, – Clarissa tem o costume de verificar as chamadas recebidas e efetuadas, assim como a agenda telefônica do namorado – a ciumenta se deparou com um nome desconhecido. “Quando perguntei quem era a tal de Daniela e ele disse que não sabia, rodei a baiana. Gritei, chorei e disse que ele não prestava. Quando liguei para o número e vi que era da minha amiga fiquei com a cara no chão”, lembra Clarissa que, mesmo passando por situações como essa, admite que não consegue mudar o comportamento.

Uma olhada para o lado ou uma saída de cinco minutos sem uma justificativa convincente já é motivo para despertar a fúria da jornalista Helena Magalhães. Paranóica confessa, a menina diz que, apesar do namorado não dar motivo para desconfiança, ela não consegue se controlar, explodindo sempre que percebe que a atenção do consorte não está sendo 100% dedicada à ela. “Já fiz e pensei coisas ridículas. Uma vez, meu namorado viajou para São Paulo para fazer uma prova e eu tinha certeza que ele estava me enganando, indo para uma viagem romântica com alguma dessas mulheres oferecidas. Só sosseguei quando ele ligou e falou, com detalhes, todas as questões do teste”, conta Helena, acrescentando que, em seguida, ligou para o número que apareceu no celular para ver se alguma mulher atendia. “Coisa de maluca mesmo”, confessa.

Mas se para todo pé doente há um chinelo velho, para toda mulher desconfiada há um homem condescendente. O engenheiro mecânico Ricardo Miranda faz parte do grupo que adora uma mulher ciumenta. Para ele, o amor vem acompanhado de interesse e, por tabela, de insegurança e medo de perder. Daí, a desconfiança. “Quando a mulher não dá muita bola para o que faço, nem procura saber mais sobre a minha vida, fico preocupado. Acho que ela não gosta o suficiente de mim”, explica Ricardo, ele próprio um ciumento de marca maior. Mas ele alerta: “Só aturo o comportamento desconfiado se realmente gostar de pessoa. Caso contrário, caio fora. Não tenho paciência”, revela.

Por trás do comportamento desconfiado e inseguro de algumas mulheres, normalmente há um passado marcado por traições, seja do parceiro ou até mesmo do pai ou de algum familiar, explica a psicóloga Tania Machado. Por terem sofrido muito em determinado período da vida, as desconfiadas costumam achar que o destino delas é serem traídas por todos os homens. “Algumas costumam até procurar namorados que tenham um histórico amoroso movimentado, para já terem uma justificativa caso ocorra uma traição. Pode até demorar, mas com o tempo essas mulheres acabam percebendo que as pessoas – e os relacionamentos – são diferentes e que a confiança é a base de tudo”, acredita Tania. Um namorado fiel e apaixonado, é claro, também ajuda.