Medo da violência, poluição, correria. Estes são alguns companheiros indesejados, mas praticamente inseparáveis de quem mora nas grandes cidades. Para fugir dessa rotina estressante, muitas mulheres têm decidido mudar completamente suas vidas, trocando as metrópoles pelo interior em busca de rotina mais tranqüila e qualidade de vida. Mesmo sem tantas facilidades e confortos oferecidos na capital, elas não se arrependem da escolha. Afinal, luxos como dormir com a janela aberta, andar nas ruas sem medo e respirar ares mais puros não se encontram em qualquer lugar…
Depois de trabalhar 30 anos numa grande companhia seguradora, Sandra Porto optou por se aposentar e curtir a vida. Mas passar os dias trancada no apartamento vendo TV não era bem o que ela queria. Viúva e mãe de um único filho, Sandra decidiu se mudar para a casa de praia da família em Rio das Ostras, litoral norte do Rio de Janeiro. “Se continuasse morando na capital, eu já estaria morta. Passei muito mal, cheguei a ficar com depressão e me internei numa clínica de repouso. Como meu filho já estava criado e trabalhando, resolvi me mudar, e foi a melhor coisa que fiz”, atesta.
Seja na agitação da cidade grande ou no aconchego da vida no interior, o que vale é estar feliz, sem medo de enfrentar mudanças radicais, como deixar um emprego e iniciar uma atividade totalmente nova
Sua rotina agora é preenchida com idas à praia ou algum tempo ao sol no jardim de casa, caminhadas, horas na cozinha (um de seus maiores hobbies), conversas com os vizinhos (coisa difícil no Rio de Janeiro) e brincadeiras com as crianças do condomínio e com seus dois cachorros, Príncipe e Rosa, dois West Terrier. Aliás, eles são o segredo da atual felicidade da aposentada. “Meus cães me fazem muita companhia, já que estou a pelo menos duas horas de distância da minha família”, diz, emocionada. Segundo Sandra, até Príncipe sentiu a mudança de vida. “Ele era muito agitado e hoje está bem mais calmo, com mais espaço para correr e brincar na grama. Ganhei a Rosa depois que me mudei, mas certamente, se estivesse morando no Rio, não teria como ficar com ela”, completa.
Ultimamente Sandra só vai ao Rio de Janeiro para reencontrar os amigos já que, segundo ela, a noite em Rio das Ostras não é lá muito agitada. “Até fui a alguns bailes aqui, mas prefiro ir ao Rio pelo menos uma vez por mês. Nem penso em voltar, não saio mais daqui!”, garante.
‘Malabarismo’ para organizar a vida profissional
Mesmo para quem trabalha e não consegue se afastar totalmente dos grandes centros, a vida no interior pode ser uma boa opção. Antiga moradora de Niterói, a pesquisadora Clarisse Ferraz optou, faz alguns anos, por uma vida ainda mais tranqüila. “Quando tive minhas filhas, eu e meu marido resolvemos ir para Petrópolis, na região serrana do Rio, um lugar tranqüilo, com clima bastante agradável e onde se pode ter um contato muito próximo com a natureza, além de respirar o ar puro da montanha. Também tivemos a oportunidade de matricular as meninas em um do melhores colégios do estado, que fica na cidade”, orgulha-se.
Mesmo feliz no interior, a cidade grande ainda continuou fazendo parte de sua vida. “Quando consegui um emprego no Rio de Janeiro, as despesas com o transporte ficaram muito altas, então resolvi voltar a alugar um apartamento em Niterói, para ficar durante a semana. Mesmo sendo tão perto do Rio de Janeiro, Niterói tem ares de cidade pequena, e foi considerada um dos lugares com melhor qualidade de vida do país há algum tempo”. Para ela, largar a vida no interior, nunca mais! “Para mim, deste jeito está ótimo, porque adoro a tranqüilidade de Petrópolis, mas quando aquela calmaria toda começa a cansar, vou para Niterói, vejo um pouco mais de movimento, cuido das minhas filhas e fica tudo bem”, conta.
Cansada de pegar ônibus lotado todos os dias para trabalhar, enfrentar horas de engarrafamento e conviver com pessoas estressadas na capital de São Paulo, a professora Maria Beatriz Nunes foi outra adepta da vida no campo. “Queria mudar de vida, mas tinha medo de largar meu emprego em uma escola particular e ir para um lugar onde não conhecesse ninguém”, afirma. Na verdade, ela só precisava de um empurrãozinho. “Um dia meu marido comentou comigo que também sonhava em morar no interior. Era tudo o que eu queria ouvir! No dia seguinte, comecei a procurar casas para alugar em Atibaia, lugar que sempre visitávamos nos finais de semana e que eu adorava, pela organização da cidade, pela boa estrutura de serviços, além do clima de serra e a proximidade entre as pessoas”, conta Beatriz, que agora dá aulas particulares de matemática em casa e organiza excursões entre os vizinhos do bairro. “Faço meu horário, ganho o suficiente para ter uma vida confortável e ainda me divirto muito com meu trabalho”, comemora.
Mas há quem faça o caminho inverso…
A jornalista Aurora Bello saiu de Cordeiro, no interior do estado do Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades. “Vim para o Rio em 2002, já que no interior eu não via perspectivas de um bom curso e boas oportunidades de crescimento profissional . No início, foi difícil enfrentar um mundo novo, com pessoas muito diferentes das que eu estava acostumada, rotina e responsabilidades diversas. Como no interior as opções de lazer são poucas, geralmente as pessoas se tornam muito mais unidas para se divertirem juntas. Já na cidade grande, há muito individualismo e a divisão de grupos: ‘o grupo da academia’, ‘o grupo da faculdade’, ‘o grupo do trabalho’ etc. As pessoas também estão muito focadas em seus afazeres, sobrando pouco tempo livre”, lista. Outra diferença para a jornalista é a segurança. “Em Cordeiro, eu não sentia medo de voltar para casa a pé depois de meia-noite. Aqui, depois das seis da tarde quando anoitece, mesmo de carro, fico alerta e preocupada”.
Entretanto, mesmo enumerando tantas vantagens do interior, Aurora é enfática ao afirmar que não voltaria mais para lá. “Não imagino mais minha vida e minha carreira com as opções que teria lá. Seria inviável. A única situação em que às vezes me pego pensando em voltar é quando penso em criar meus filhos no meio dessa violência, ‘trancados’ em apartamentos, sem liberdade. Ainda assim, não acho que eu e meu marido nos adaptaríamos mais numa cidade pequena. Teremos que recorrer a outros métodos para criarmos nossos filhos da melhor maneira possível”, prevê.
… e quem não resista à agitação da cidade grande
Já para a secretária executiva Maria Angélica Bellinho, morar no interior é assunto a ser muito bem avaliado. “Gostaria muito de viver numa cidade pequena, perto da praia, quando me aposentasse, mas atualmente não consigo viver sem a agitação do Rio de Janeiro. Aqui tenho todo o tipo de opções de lazer, cultura, estudos e muito mais ofertas de emprego. Uma vez tive a oportunidade de ir morar no interior, mas preferi não arriscar. Trabalho no centro financeiro da e cidade adoro essa ‘muvuca’. Acho que justamente essa agitação me dá ainda mais energia e motivação para trabalhar”, entusiasma-se.
Maria Angélica ainda dá um recado a todas as mulheres que estão na dúvida sobre onde é melhor viver: “Seja na agitação da cidade grande ou no aconchego da vida no interior, o que vale é estar feliz, sem medo de enfrentar mudanças radicais, como deixar um emprego e iniciar uma atividade totalmente nova”.
E, então, qual é o seu destino?