Sábado à noite, os olhares pipocam pela boate. Não há quem escape do flerte, e, convenhamos, é para isso mesmo que você está lá. Cansada de tanto dançar, você vai até o bar para pegar um drink. De longe, percebe um gatinho caminhando em sua direção. Opa! A noite vai esquentar! Ele se aproxima, olha fundo nos seus olhos, e pergunta: ” Você vem sempre aqui?“. No campo da paquera, essa fatídica frase leva por água abaixo qualquer tentativa de aproximação. Se a primeira impressão é mesmo a que fica, esta só conseguiu transmitir impessoalidade, tédio e falta de originalidade. Portanto, na arte da conquista, um bom marketing passional pode ser o segredo do sucesso.
Quem nunca foi vítima de uma cantada sem graça? Parte fundamental da paquera, ela é tão importante quanto uma aparência atraente e um hálito agradável. E quando o flerte não agrada, pode esquecer e partir para outra. Um bom conquistador precisa de lábia e muito bom humor. Afinal, sempre há chance da aproximação não dar certo, o que exige jogo de cintura e compostura.
Fátima Moura é expert em cantadas. Mas além de ensiná-las, a personal sex trainer também é vítima delas. Dentre as muitas que recebe, recorda-se de uma em particular. “Estava andando pela Avenida Paulista, quando um homem elegante, de terno, veio me perguntar se havia uma igreja nas proximidades. E eu ali, tentando lhe explicar as coordenadas da tal da igreja, quando ele diz em alto e bom tom: “Então posso marcar o nosso casamento?”. Foi a cantada mais sutil que recebi. Era a última coisa que eu esperava escutar naquele momento”, diz Fátima. Para a personal, convicção é um grande trunfo na hora H. “Por mais certo sobre a investida que o homem esteja, sempre há chance de se escutar um não. É preciso transmitir segurança. Além de original, ele foi certeiro”, avalia.
Vender o próprio peixe é tarefa árdua quando não sabemos o que esperar do alvo. Mas eles não parecem se intimidar, e insistem na ladainha de sempre. É um tal de “você caiu do céu” pra cá, e “tá quente aqui, ou é só você?” pra lá. “Os homens precisam esquecer das frases feitas. Elas não colam mais. As mulheres têm sempre a resposta na ponta da língua, portanto, se eles não se empenham, dançam”, afirma Fátima. E reclamações femininas não faltam: “Não me lembro de sequer uma cantada decente que tenha recebido. O máximo foi um ex-namorado que me ligou dizendo que ia se matar se não reatássemos. É claro que não acreditei, além de achar tudo muito desagradável”, lamenta a assistente de produção Tais Chaiber.
Tentativas equivocadas não faltam no campo da azaração. A publicitária Joana Bueno tomava um chope entre amigas quando foi surpreendida pelo seguinte bilhete, entregue pelo garçom. “Queridas bisunguinhas, estamos encantados com vocês. Gostaríamos de nos aprochegarmos. Esperamos um sinal de ok para tomarmos um chopp juntos. Beijokas 1000”. A mensagem, escrita em um pedaço da toalha de papel que cobria a mesa do bar, foi devidamente fotografada e virou motivo de piadas entre as meninas. Enquanto os autores do bilhete continuam esperando pelo sinal de ok, elas seguem se perguntando o que seria uma bisunguinha. “De tão esdrúxulo, ficamos na dúvida se era sério mesmo”, conta Joana. Como se não bastasse, o erro não se resumiu ao teor da mensagem, mas também ao alvo. Joana e suas amigas são gays, o que jogou o esforço dos bisunguinhos – seja lá o que isso signifique – por água abaixo. Mais uma bola fora!
Pior do que amargar em tentativas fracassadas, só mesmo ser a vítima do ataque. Que o diga a assessora de moda Beatriz Araújo. A coitada foi assediada por um admirador secreto um tanto quanto infeliz na escolha do presente. “Era páscoa, e recebi em casa uma cesta repleta de ovos de páscoa maravilhosos. Só que eu estava de dieta, e dei tudo”, conta Beatriz, que também não gostou nada do admirador. “Era um cara que estudava comigo, mas eu mal o conhecia. Tanto que, ao ler o cartão, demorei a associar o nome à pessoa. Fiquei muito assustada por ele saber meu endereço, e mais ainda quando me ligou para saber o que eu tinha achado”, diz. Desnecessário responder.
Jogo baixo também faz parte das investidas masculinas. Dirigindo para casa, a produtora Débora Dias foi cantada em pleno sinal de trânsito. “Eu estava fumando no carro, com o vidro aberto, quando um homem no carro ao lado começou a puxar papo. Nisso, percebi que havia alguém no banco de trás. Era um bebê, sentado numa cadeirinha, provavelmente filho dele. O cara-de-pau, além de não se envergonhar, ainda usou a criança para chamar a minha atenção. Ele falava pra menininha “dá oi pra tia”, como se ela fosse um cachorrinho. Fiquei chocada”, indigna-se Débora.
Diante tantas reclamações, e sem um PROCON para nos salvar, fomos atrás da professora de sedução Regina Racco. Com anos de experiência, ela ensina o bê-á-bá da paquera em seus cursos. “Quanto mais leve, maiores as chances de sucesso. O que vale nessas horas é o humor. E quem não gosta de ser assediada? Nossa auto-estima vai lá pra cima, e as paqueras funcionam como um termômetro do nosso astral. Se estamos bem, elas chegam aos montes. Se não, é hora de trabalhar nossa energia”, explica Regina, ela mesma vítima de uma cantada frustrada. “Estava num congresso em Salvador, acompanhada de meu namorado. Um dos participantes, que estava hospedado no mesmo hotel, começou uma paquera comigo. Não dei atenção, mas ele insistia com olhares e frases de efeito. Num dos jantares do grupo, ele teve a brilhante idéia de pedir ajuda na conquista. Adivinhe a quem. Meu namorado, claro! O constrangimento foi tão grande que ele se retirou antes mesmo do final do encontro”, conta Regina. Se nem as experts escapam, só nos resta torcer para que o próximo da fila seja mais criativo.