Um fiel leitor, Roldão Simas, nota que se escutava muito falar em vinho clarete. E hoje em dia não mais. O que houve com o clarete? O que é clarete?
Clarete, tal como utilizamos normalmente hoje, é a forma que os ingleses (os americanos, não) geralmente utilizam para descrever os vinhos tintos de Bordeaux. É grafado com o “t” mudo: Claret.
Na França medieval, a maioria dos vinhos tintos resultava de uma breve fermentação, normalmente não mais do que um ou dois dias. Esse curto período de contato do suco com as cascas das uvas produzia um vinho de cor muito pálida, provavelmente muito parecidos com os rosados de hoje. Esses vinhos, exportados de Bordeaux, eram chamados de vinum clarum, ou Clairet – e foi dessa última palavra que derivou o termo inglês Claret.
Outros vinhos, muito mais escuros também eram produzidos, levando o que restou da primeira fermentação para uma nova prensagem. E o vinho que resultava era chamado de vinum rubeum purum, bin vermelh ou pinpin.
Embora a forma clairet fosse largamente utilizada na França medieval, a expressão claret parece não ter sido muito utilizada na Inglaterra até o século XVI. Na segunda metade do século XVII, um novo tipo de vinho, de qualidade muito melhor e de cor mais escura, começou a ser produzida nas regiões de Graves e no Médoc. Mais atenção era dada à seleção das uvas, melhorou-se a técnica de vinificação, utilizaram-se barris de carvalho novos. Então, no começo do século XVIII, os ingleses começaram a chamar esses vinhos de Novos Clarets Franceses e os mais famosos entre eles eram o Haut-Brion, Lafite, Latour e Margaux.
(The Oxford Companion to Wine – segunda edição. Editado por Jancis Robinson, MW).
Clairet – estilo de vinho rosado escuro que é uma especialidade da região de Bordeaux, lembrando os vinhos tintos exportados em grande quantidade para a Inglaterra, na Idade Média. Foi esse Clairet que originalmente inspirou a expressão inglesa Claret.
Como é feito? Uvas tintas são fermentadas em contato com suas cascas por cerca de 24 horas. Retiram-se as cascas e a fermentação continua até secar. O sumo pega muito pouco a cor tinta, ficando mais para o rosado. É, então, engarrafada para ser vendida sob a apelação “Bordeaux Clairet” e deve ser bebida o mais jovem possível. Falam que se originou em Quinsac, nas Premières Côtes de Bordeaux.
Clairette. É um nome muito utilizado para uvas brancas do sul da França. Como, por exemplo, a Clairette Ronde, do Languedoc (que é a uva Ugni Blanc, versão da Trebbiano italiana, que entra na produção do Conhaque e do Armagnac). As Clairettes servem também como sinônimos para a uva Bourboulenc.
Clarete. É também uma expressão espanhola para um vinho de matiz entre o rosé (que os espanhóis chamam literalmente de rosado) e um tinto leve. Relaciona-se etimologicamente (mas não enologicamente) ao Claret inglês e tem origem em claro – que significa isso mesmo, claro.
A palavra foi utilizada nos rótulos de vinhos espanhóis até sua proibição, em razão da entrada da Espanha na União Européia, em 1986. Mas ainda é empregada no país como uma expressão descritiva.
Clarete. Em Portugal é o vinho tinto “pouco colorido”. Mas lá temos também o vinho Palhete (ou Palheto), um vinho tinto obtido “da curtimenta parcial de uvas tintas ou da curtimenta conjunta de uvas tintas e brancas, não podendo as uvas brancas ultrapassar 15% do total”.
Temos aí, na verdade, um rosé ou rosado. Existe, inclusive, uma designação oficial: Palhete de Ourém, para os vinhos dessa região, em complemento à designação “Vinho Regional Estremadura”, com uvas tintas e brancas originais da região de Ourém e lá vinificadas.
É uma bebida de origem medieval, com maiôs de 800 anos de história, finalmente regularizada pelo governo português em 2001. O palhete tem uma cor próxima ao do rubi claro.