Bolsa de Mulher.- Você poderia falar do show que está estreando?
PaulinhoTapajós – O show é no Vinícius Bar e vai acontecer nos dias 5, 6 e 7 de abril. Vou mostrar um apanhado das músicas que eu fiz de mais sucesso, tipo “Sapato Velho”, “Andança”, “Irmãos Coragem” e “Cantiga por Luciana”, e tem uma parte em que eu queria historiar um pouquinho da minha família, principalmente os que já se foram, meu pai (Paulo Tapajós), minha irmã (Dorinha) e meu irmão (Maurício). Eles deixaram aí uma contribuição muito grande na MPB. Vou contar um pouco da minha história a partir também do meu pai e do meu tio que faziam músicas com Vinícius e o show vai ser justamente no Vinícius Bar. Meu tio Haroldo e o meu pai, conhecidos como irmãos Tapajós, foram os primeiros parceiros do Vinícius, do tempo que ele fazia fox trote e nem fazia MPB. Era a época adolescente dele. Então, vou mostrar um pouquinho dessas músicas, principalmente uma que fez muito sucesso na década de 30 chamada “Loura ou Morena”, que é do tio Haroldo e do Vinícius, e o Vinícius já gostava muito de loura e de morena (risos). Vou mostrar também algumas músicas do meu irmão, “Carro de boi”, a primeira que ele fez e que foi gravada pelos Cariocas e pelo Milton Nascimento, “Querelas do Brasil” e “Tô voltando”. Vou aproveitar e mostrar “Madrugada”, a primeira música que gravei e que tocou bastante no rádio embora não tenha ficado.
BM – Quem vai te acompanhar no palco?
PT – Haroldo Goldfaber no teclado e Santiago na percussão. Gerly Goldfaber (esposa do Haroldo) e a Lôzinha estão no backing vocal. A Lôzinha é a minha mulher, a Heloísa.
BM – Quais a tuas principais parcerias?
PT – Olha, eu tenho tanto parceiro, é complicado dizer pelo nome… compus com tanta gente. Eu acho que tenho repertório maior com Sivuca e com o Edmundo Souto, que é meu parceiro em “Andança” e “Cantiga por Luciana”.
BM – Conte sobre a época dos festivais.
PT– Bom, os festivais, para mim, foram importantes. Eu, praticamente, acabei optando pela música na época em que eu estudava Arquitetura e aí começaram aqueles festivais universitários. Então, Porto Alegre foi meu primeiro festival, em 1966 ou 67, se eu não me engano. Coloquei cinco músicas nesse festival e as cinco foram classificadas. Comecei a compor mais profissionalmente por causa desses festivais. Depois fui para o Festival Internacional da Canção, tinham vários festivais de Juiz de Fora, Niterói…Viajei o tempo todo. Eu ainda não era profissional de música e acabei optando pela música. Eu cheguei a terminar a faculdade, mas comecei a trabalhar com disco no final do curso porque era contratado pela Polygram para cuidar de um selo que era de universitários, o selo Forma. Lá eu lancei vários artistas como Gonzaguinha, Fagner, Antônio Adolfo, o grupo O Terço, César Costa Filho, Ivan Lins… Pessoas que surgiram através daqueles festivais universitários e, no mercado fonográfico, através do selo que eu dirigia. Eu praticamente contratava os artistas, tinha que viajar e freqüentar os festivais pelo Brasil para buscar talentos de outros estados.
BM – E as mulheres em tuas composições? Quem são?
PT – Tem tanta mulher (risos). Algumas são fictícias e outras reais. Acho até a que foi mais importante era um embrião, era um feto, a Luciana. A “Cantiga por Luciana”, vencedora do Festival da Canção com a interpretação da Evinha, foi feita em homenagem à filha da Vânia, irmã da Beth Carvalho, que estava grávida. A gravidez era muito complicada porque ela só tinha uma trompa. A música é uma homenagem a uma criança que ia nascer, não sabíamos se era homem ou mulher porque não tinha ultra-sonografia, era 1968 ou 1969. O bebê nasceu e, por sorte, foi uma menina.
BM – Aí o nome Luciana virou moda?
PT – Naquela época não tinha muita Luciana. A Vânia, inclusive, escolheu Luciana por causa de outra música, do Vinícius, chamada “Valsa para Luciana”. A filha dele se chamava Luciana também.
BM – O que você está compondo? O que tem feito?
PT – Eu tenho feito algumas coisas com o Sebastião Tapajós, embora ele não seja Tapajós desde que nasceu. Ele tem agora o Tapajós até na carteira de identidade dele… virou primo. Ele nasceu às margens do Rio Tapajós e resolveu adotar o nome. A gente nunca tinha composto nada junto e, na falta de outro Tapajós, já que quase todos os Tapajós foram embora – papai, meu irmão e minha irmã. Estamos compondo uma suite amazônica e queremos ver se transformamos isso num projeto maior, num CD, num documentário, numa trilha ou num livro. Algumas dessas letras amazônicas que eu estou fazendo são lendas que estou desenvolvendo como texto literário para fazer um livro. Estou compondo esse trabalho com ele porque é uma coisa de resgate, eu estou muito no resgate dos Tapajós, sabe?
BM – Você já tem livros publicados?
PT – Já lancei mais de dez livros infantis e a coletânea de letras de músicas “De Versos” (1986). Agora estou pensando nesse com as lendas amazônicas.
BM – Você vive da música?
PT – Eu não vou dizer assim que eu vivo de música, né? Mas dá para sobreviver relativamente.
BM – Como é a tua rotina? Como você compõe?
PT – Eu antigamente, como tinha uma atividade maior como compositor, trabalhava muito mais, havia muita encomenda. Essa coisa de você ter que entregar é saudável, muito mais legal, uma grande motivação. Já compor pura e simplesmente por inspiração é muito satisfatório, mas não é uma coisa que te transporte a uma rotina de trabalho.
BM – Você recebeu uma formação musical formal?
PT – Eu tenho alguma noção, mas nunca fiz curso de música. Estudei um pouco com meu pai e com Arthur Verocai, meu primeiro parceiro. Estudei violão clássico depois com Leo Soares e muito tempo depois estudei com Almir Chediack, harmonia e técnica de violão.
BM – Esse meio musical te influenciou?
PT – Com certeza. Minha casa vivia cheia de artistas porque meu pai era diretor da Rádio Nacional: Marlene, Emilinha, Garoto… Fui acostumado a viver cercado de artistas. Quando era pequenininho, eu me lembro que eu não sabia que as pessoas tinham outras profissões, pensava que todo mundo era cantor e músico. Eu só conhecia aquele mundo ali. Ia buscar papai na Rádio Nacional com minha mãe, ficávamos até o final do expediente, víamos aquela orquestra no auditório. Víamos o programa do Paulo Gracindo, Manuel Barcelos, meu padrinho. Dentro de casa era a mesma coisa, o tempo todo ouvindo música. Papai ouvia Caruso, Francisco Alves, Luís Gonzaga e até João Gilberto. Eu, meu irmão e minha irmã respirávamos música. Mas eu nunca pensei em seguir essa profissão: cantor e compositor. No colégio, as pessoas que faziam música acabavam se aproximando de mim: a Beth Carvalho, minha comadre, o Arthur Verocai com o Victor Assis Brasil e muita gente ligada à música. Na faculdade, foi a mesma coisa: tem o Luís Claudio Ramos e o Danilo Caymmi, que foi meu colega desde o vestibular, foi meu parceiro na música “Andança” e acabou de gravar uma música que fiz com o Roberto Menescal.
BM – Quantos discos na tua carreira?
PT – Só tenho dois CDs pela gravadora CID: “Coração Poeta” (1996) e “Reencontro” (1998). Eu tenho sete discos: quatro LPs e um compacto duplo.
BM – Você se sente melhor compondo, no palco ou no estúdio?
PT – Olha, eu me sinto melhor criando, no estúdio ou em casa. Eu prefiro fazer qualquer coisa de criação do que me expor. Eu só me sinto a vontade no palco depois de uma troca de energia. Não tem nada melhor no mundo quando está uma troca de energia legal. Tenho medo e ansiedade antes do show começar. Será que vai rolar legal? Será que vai ter gente? Será que vou agradar? Aquelas coisas, né? E criar é aquela coisa de você mais com você, eu curto mais. O ato de criar é muito rico, muito gostoso. Tenho mais de 200 composições gravadas por diversos artistas. Já o ensaio e o palco são mais desgastantes.