Uma marca chamada Chanel

Prestes a ser homenageada com a produção de dois filmes sobre a sua vida – um inclusive será estrelado por Audrey Tautou (atriz de “Amélie Poulain” e “O Código da Vinci”), Coco Chanel se apresenta mais uma vez como uma das figuras mais importantes do século XX. Mais do que uma estilista revolucionária, mais do que uma lançadora incansável de tendências, Mademoiselle Chanel influenciou a maneira de ser das mulheres a partir dos anos 20.

Chique e à frente de seu tempo, Chanel não só mudou completamente a moda feminina como também a maneira da mulher olhar para si mesma. O luxo de suas peças estava na simplicidade e no casual. O masculino e o feminino fundidos num mesmo estilo.

Suas bolsas em matelassê com correntes douradas, suas inúmeras bijuterias em pérolas, seu “litlle black dress” e, ainda, seu inconfundível tailleur são criações memoráveis e atemporais

Nascida em 1883, na França, Gabrielle Bonheur Chanel perdeu os pais muito cedo e viveu parte de sua juventude em um orfanato com as irmãs. As dificuldades da infância a levaram a buscar alternativas de sobrevivência e muita criatividade na hora de se vestir.

Após ter uma rápida experiência artística, quando recebeu o apelido carinhoso de Coco, Chanel começou a se dedicar à fabricação de chapéus. Ajudada por amigos, conseguiu abrir um ateliê em Paris, em 1910, e não parou mais. Em pouco tempo havia se tornado uma das mais influentes criadoras de moda da Europa.

A estilista, ao se apropriar de peças do guarda-roupa masculino, mostrou a todos que era possível criar uma moda esportiva e confortável sem perder a elegância, o charme e, principalmente, a feminilidade. Chanel foi uma das primeiras estilistas a experimentarem o jersey como matéria-prima, antes usado apenas na fabricação de underwear masculino.

Em 1922, ela lançou a fragrância Chanel nº 5, sucesso de vendas instantâneo, imortalizado na audaciosa declaração de Marilyn Monroe. A atriz, ícone de beleza e sensualidade, ao ser perguntada sobre o que usava para dormir, deu a provocante resposta: “Apenas duas gotinhas de Chanel nº 5.”

Ninguém melhor do que o próprio criador para endossar sua arte. E foi assim também com Mademoiselle Chanel. Ela desfilava pelas ruas e festas da cidade suas criações “liberais”. Chanel conseguiu traduzir as aspirações da mulher moderna e revolucionou a moda ao propor trajes confortáveis e funcionais, abolindo completamente o uso dos espartilhos. Rapidamente criou uma clientela fiel, ávida por novidades, que percebia o novo papel social das mulheres.

Criadora do sportswear, introduziu na moda cotidiana peças anteriormente usadas somente na prática de esportes. Apaixonada pelo estilo navy, Chanel propôs o uso de calças compridas e blusas listradas – um eterno clássico – pelas mulheres. Suas bolsas em matelassê com correntes douradas, suas inúmeras bijuterias em pérolas, seu “litlle black dress” e, ainda, seu inconfundível tailleur são criações memoráveis e atemporais. Christian Dior uma vez disse: “Com um sweater preto e dez voltas de pérolas, Chanel revolucionou a moda.”

Infelizmente, com a eclosão da II Guerra Mundial, a estilista foi obrigada a fechar seu ateliê, mas felizmente retornou ao mercado com sucesso, em 1954, para enfrentar uma outra batalha… Dior acabara de lançar o seu “New Look”, uma concepção de moda absolutamente antagônica a sua.

Em 1983, o alemão Karl Lagerfeld assumiu a direção criativa da Maison Chanel e instaurou finalmente um período de renovação a uma das marcas mais desejadas em todo o mundo.

Elegante, bem-humorado, com o seu característico rabo-de-cavalo, Karl Lagerfeld conseguiu dar novo ânimo à tradicional grife francesa, porém sem deixar escapar o princípio básico de liberdade de sua fundadora.

Recentemente, em parceria com uma cadeia de moda popular – a H&M – o estilista assinou uma coleção exclusiva a preços acessíveis. Um estouro de vendas: a coleção se esgotou em algumas horas.

Seu último evento num hangar em Santa Mônica, Califórnia, não deixou dúvidas de que Karl Lagerfeld sabe mesmo o significado da palavra renovação. Dois aviões Challenger 601 personalizados serviram de cenário para o desfile da coleção inverno 2007/08. As portas se abriram e as modelos apresentaram 60 looks inspirados nas viagens em jatos particulares.

Talvez a coleção não retratasse uma moda muito acessível para a maioria das mulheres, como propôs Coco Chanel em décadas passadas, mas o encanto pela marca se fortalece a cada geração.