Vai e vem de celebridades

por | jun 30, 2016 | Comportamento

Surge uma estrela. A primeira vez que ouvi sobre a Arinarnoa, uma uva nova (para mim, pelo menos) foi visitando a vinícola HuberVini, no Cantão de Ticino, na Suíça. É uma plantação pequena, tocada por Daniel Huber e sua família. Lá, entre muitas variedades, todas originárias da França, ele cultiva uma pequena porção da terra com a Arinarnoa, variedade devidamente aprovada e recomendada pela União Européia para a produção de vinhos finos. Anotei o nome, mas não consegui provar do vinho feito com a, então, novidade. Na ocasião, Daniel Huber estava enrolado com o seu brilhante “Montagna Mágica”, um tinto 100% Merlot que vinha conseguindo grande aceitação. Ele não tinha tempo para uma estrangeira intrometida. Além do que, a tal da Arinarnoa não estava disponível, nem para uma provinha.

Logo, foi uma grata surpresa quando minha amiga Alessandra Casolato, da CH2A Comunicação, informou do lançamento aqui no Brasil, pela Casa Valduga, de um vinho com essa nova uva, a Arinarnoa, uma “híbrida”, ou um cruzamento entre as francesas Merlot e Petit Verdot.

Pois a Arinarnoa é uma nova estrela, uma variedade de uva inédita no Brasil e que, certamente, tornará nossas adegas mais diversificadas e saborosas.

A nova cepa já chega premiada. Na 13ª Avaliação Nacional de Vinhos, que aconteceu agora, 24 de setembro, em Bento Gonçalves, RGS, promovida pela Associação Brasileira de Enologia com o objetivo de avaliar as safras produzidas em território nacional, os vinhos da Casa Valduga esteve entre as vinícolas que mais classificaram vinhos. Seus Cabernet Sauvignon (2 amostras), Malvasia, Merlot, Chardonnay e a exclusiva Arinarnoa estiveram entre os selecionados.

A Casa Valduga vocês certamente conhecem: fica no Vale dos Vinhedos, município de Bento Gonçalves, pertinho de Porto Alegre, numa área cercada de montanhas, a 671 metros de altitude, muito parecido com o cantinho onde Daniel Huber e família fazem seus vinhos, na Suíça. A Valduga também é um negócio de família.

A nota chata é que só poderemos provar a Arinarnoa a partir de 2007. Fazer vinho leva tempo. Se no show business se acredita que uma estrela pode acontecer do dia para a noite, no mundo dos vinhos pelo menos as boas estrelas levam tempo para se apresentar a todas nós. Paciência, vamos esperar.

A volta de uma estrela. Nos Estados Unidos acabam de lançar um vinho aproveitando-se de um dos maiores mitos de Hollywood. É o “Greta Garbo Brut Rosé 2001”, espumante da Domaine Carneros, vinícola da Califórnia de propriedade da célebre casa de Champagne, a Taittinger.

Para uma diva cuja frase imortal é o “Deixem-me só”, é estranho vê-la num vinho que é sempre resultado da combinação de dezenas de vinhos. Tomara que não briguem entre eles.

Outro grande mito que o vinho ajuda a renascer é o “Marilyn Monroe”, da Vinícola Marilyn, de Napa. Acabam de lançar a sua “Coleção Veludo 2003”, um blend de Cabernet Sauvignon e Merlot, com direito à foto da atriz nua (na página central de Playboy, em 1953), no seu rótulo. Os vinhos da Marilyn não fazem parte da elite da Califórnia. Contudo, são caríssimos. O que uma imagem, uma lenda não é capaz de fazer.

Mas o que interessa mesmo é a volta de uma estrela.

Não vou nem perguntar quem se lembra do “Anticuário”, marca lançada nos anos 70 e que por vinte anos foi considerado o melhor vinho brasileiro. Certamente, foi o primeiro entre nós com o blend tradicional de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc). Era propriedade do Château Lacave, vinícola de Caxias do Sul sediada numa cópia de um castelo espanhol do século XI, a única construção desse tipo projetada e construída para produzir vinhos, em todas as Américas.

O Château Lacave foi comprado por uma multinacional francesa e o Anticuário, que chegou a ganhar prêmios internacionais, sumiu das prateleiras, até que em 2001 uma empresa nacional familiar, tradicional no ramo de vinhos, a Família Basso, adquiriu da Lacave e iniciou o resgate do Anticuário.

A partir da safra 2002, primeira da Família Basso no Castelo, o vinho passa a ser chamado Anticuário Antigas Reservas, com novo rótulo, mesmo estilo de garrafa cantil que fez sua fama (o mesmo do nosso conhecido Mateus Rosé) e o mesmo corte dos velhos tempos: 70% de Cabernet Sauvignon, 20% de Merlot e 10% de Cabernet Franc. O vinho passou cerca de seis meses em barricas de carvalho americano, e após engarrafamento, descansou nas caves subterrâneas do castelo até agora, seu lançamento oficial.

O rótulo, cujo formato lembra a torre do Castelo, tem o mesmo estilo do antigo, uma etiqueta solta presa à garrafa por um lacre na rolha. No novo rótulo constam informações e testemunhos de pessoas importantes desta história, o enólogo que o acompanhou por 27 anos, Henrique Vazquez, o atual enólogo Silvânio Dias, o cantineiro Azelindo Casiraghi, por 29 anos no Château Lacave e o fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, o enófilo, autor e crítico de vinhos Carlos Cabral.

O próprio Carlos Cabral, autor de “Presença do Vinho no Brasil”, a melhor pesquisa, o melhor texto sobre a história da bebida em nossas terras, avalia o novo vinho:

“Com a safra 2002 temos a possibilidade de ver o retorno do rei. O vinho está bem estruturado, tem aromas bastante delicados que lembram frutas, muito bom, mas precisa de oxigenação. Na boca tem-se a agradável surpresa de um vinho seco, mas com os taninos totalmente maduros, envolvente na mucosa”, analisa.

Para ele, o futuro do vinho é promissor, “é um vinho que dentro da média da produção brasileira vai aparecer com bastante destaque, porque deverá ser reconhecido como um esforço de se fazer um produto de alta qualidade. Acredito que as próximas safras poderão acrescentar ainda mais qualidade. Estou ansioso, por exemplo, para provar este vinho já na versão da safra 2005, a melhor dos últimos 99 anos na Serra Gaúcha”.

Essa é a estrela que nos interessa: não tem nome de celebridade e nem precisa. O vinho que traz em sua estranha garrafa é o que faz a sua fama e, ao que tudo indica, como o grande Carlos Cabral confirma, continuará melhorando mais e mais.

Pois é isso: uma estrela é potencialmente uma celebridade, uma pessoa de grande conhecimento pela sociedade. Potencialmente, pois para que seja uma celebridade requer-se que a estrela fique famosa. Por qualquer motivo: um divórcio, uma transa exibida na Internet pode ajudar. Na nossa terrinha, as celebridades não saem apenas do cinema, da televisão ou dos esportes. Os políticos figuram cada vez mais com desconcertante destaque.

Aqui torcemos pelos vinhos que são estrelas em ascensão. Queremos que se tornem celebridades. Ficamos atentos àquelas garrafas que dependem de celebridades em carne e osso, do cinema ou de outras mídias para serem reconhecidos (o que não é de estranhar, já que a publicidade hoje utiliza mais do que nunca o recurso de usar os famosos para vender seus artigos).

E tem aquelas estrelas que já fizeram fama no passado e que agora retornam. Vejam só o caso do John Travolta. O Tony Manero de “Sábado à Noite” desapareceu a partir de 1977. Seu grande retorno foi com “Pulp Fiction”, em 1994. Ele perdeu qualidade? Nada disso: ficou no limbo, limpando as feridas. Mas, 20 anos depois, voltou para ficar. O Anticuário está nesse caso.

Amiga, se quiser saber mais sobre garrafas que são estrelas, celebridades e famosas no mundo dos vinhos é só clicar para o Bolsa ou para a Soninha no soniamelier@terra.com.br