Depois dos badaladíssimos Rio e São Paulo Fashion Weeks, você deve estar louca para sair correndo atrás das últimas novidades e compor looks de arrasar. Se é que já não repaginou todo o guarda-roupa! Nada de errado com isso, pelo contrário: todas nós merecemos andar bonitas e arrumadas, mas… Muita calma nessa hora! Só porque você viu isso ou aquilo nas passarelas, nas revistas, nas atrizes ou nas vitrines de loja, não significa que todos os modelitos, cores e estampas vão lhe cair bem. Mas se você é daquelas que não se importam muito com isso e veste tudo o que está em voga, porque, afinal, chique é ser fashion, então tome muito cuidado! Mesmo com a certeza de que, dos pés à cabeça, você está dominando a moda, é ela que pode estar te fazendo de vítima.
Fashion victims
Flashes, glamour, novidades… Nada como o mundo da moda! Mas, antes de mais nada, é preciso saber que a moda é uma oferta de tendências, não está ali simplesmente para ser seguida. Tem que saber peneirar e ver o que combina com você. Uma fashion victim – vítima da moda – não consegue fazer isso. Nas palavras de Ciça Mattos, nossa colunista e consultora de moda, ” fashion victim é aquela pessoa que segue as tendências de forma exagerada, simplesmente para ‘estar na moda. Por exemplo, se a tendência for roxo e balonê, ela estará vestida assim”, afirma Ciça. Ou seja, a fashion victim usa todos os estilos, mas não tem nenhum próprio, ou ainda não descobriu.
Ela estava de legging, camisão de malha por cima e botinha ankle boot. Tudo cinza! Partindo do princípio que era um casamento, o look não estava de acordo com a cerimônia, assim como estava exageradamente ‘na moda’
O problema é discernimento: a fashion victim parece não conhecer a palavra e usa todas as tendências ao mesmo tempo, como se fosse um catálogo ambulante das grifes. Sim, grife, porque vítima da moda que se preza não usa roupa de brechó, não! Se não for de marca, nada feito, meu bem! “Existe um outro termo que define muito bem isso: logomania”, revela Ciça. Ela conta que a ostentação da logomarca foi uma onda muito forte nos anos 80, mas que nunca abandonou determinadas consumidoras.
Você é o que você veste
“Na minha época, etiqueta era dentro da roupa. Hoje, é fora”, brinca a psicóloga Joana Novaes, Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio e autora do livro O Intolerável Peso da Feiúra – Sobre Mulheres e Seus Corpos . Mas é isso mesmo: “Beleza exterior virou capital, é moeda de troca e passaporte para a felicidade”, revela Joana. Numa sociedade marcada pelas aparências, na qual ser feia é ser excluída e discriminada, a corrida por um visual bonito é uma loucura! “Vivemos em uma era de visibilidade e do culto à imagem, ao corpo. Não basta, portanto, ser. Tem que aparecer”, enfatiza Joana. E a indústria da moda manipula isso muito bem. Ela divulga e massifica padrões estéticos e a gente passa a se espelhar nisso. É traçada, então, a linha tênue entre o descolado, o moderninho, e o cafona, o over, o exagerado.
“As vítimas da moda são muito corajosas, porque desfilar pelas ruas parecendo uma árvore de Natal, cheias de badulaques, mil cores e texturas não é fácil”, diz Zizi Ribeiro, consultora de estilo de O Globo. O fato, porém, é que as vítimas não se sentem fazendo papel de ridículas. Pelo contrário: se sentem muito bem. OK, mas algumas estão dispostas a se endividar – deixar de pagar as contas de casa para consumir moda -, ostentando o que, na verdade, não são. É aí que mora o perigo!
Por trás das aparências
Shopping Center – a catedral das mercadorias (Editora Boitempo), de Valquíria Padilha, mestre em sociologia e doutora em ciências sociais pela Unicamp, mostra exatamente isso. A socióloga, especialista em estudos do lazer, volta ao século XIX para contar como foi o surgimento das lojas de departamento na Europa Ocidental, que deram origem aos shoppings. E mostra que essa é uma história que anda lado a lado com a da cultura do consumo: as lojas de departamento foram as primeiras responsáveis por criar, no consumidor, a necessidade de possuir certos bens, como os produzidos pela indústria da moda. De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), o setor de vestuário movimenta, em média, 15 bilhões de reais por ano no Brasil!
Mas, segundo Joana Novaes, quem quer comprar tudo o que é novidade não é nem vítima, é prisioneiro! Ela alerta: “Quem quer vestir tudo ao mesmo tempo acaba ocupando o lugar do patético, do brega, ao invés de se destacar como chique e elegante”. E completa: “as vítimas da moda, na busca pela aceitação e pela visibilidade, acabam no ‘tudo e nada’. Ao mesmo tempo que concentram todos os estilos, não têm estilo algum, porque estão à mercê das rédeas da moda”.
Por trás da fixação nas últimas tendências, há, ainda, um problema maior: o disfarce emocional da ansiedade e até mesmo da compulsão pelo consumo. Alto lá, ser vítima da moda não é doença. “Se a pessoa se sente bem daquele jeito, não há nada de errado com isso, apesar de as pessoas ao redor acharem que há”, ressalta Joana. A situação começa a complicar quando a vida da fashion victim passa a se pautar apenas pela aparência. “Se endividar em nome da moda é, por exemplo, um sinal de que as coisas não estão bem, de que há um desequilíbrio interno. Gastar dinheiro demais pode ser um sintoma de compulsão, assim como deixar de comer para ficar magra”, alerta a psicóloga.
Se você tiver dinheiro para gastar, tudo bem, se não, segura a carteira! E fique de olho no seu estilo! Um dos piores erros que uma mulher pode cometer em nome da moda é deixar de olhar para si mesma, deixar de analisar o que realmente lhe cai bem e retrata a sua personalidade. “É claro que temos que nos sentir bem usando uma roupa, mas, se não quisermos parecer ridículas, temos também que ter uma noção do que podemos ou não usar. O bom senso é fundamental”, explica Ciça Mattos.
Seu estilo
Este não pode mudar conforme a moda, porque o estilo é o que diz respeito à sua essência, ao que você é. Seguir fielmente as tendências e usá-las sem um toque pessoal pode indicar uma grave falta de auto-estima. É assim que Cristina Gabrielli, consultora de estilo da Oficina de Estilo, recebe grande parte de suas clientes. “Elas nos procuram normalmente quando estão em uma fase de transição em suas vidas, quando querem encontrar si próprias”, conta Cristina. “Esse é justamente o nosso trabalho: ajudar a cliente a identificar seu estilo, porque às vezes, sozinha, ela não consegue”.
Com a ajuda de profissionais antenados na moda – os personal stylists -, quem tem um pouco de insegurança para se vestir, correndo o risco de se tornar uma fashion victim, pode se auto-conhecer e descobrir o que combina com o seu jeito de ser. Ao final de um mês de consultoria, que varia entre 2 mil e 5 mil reais, o consultor de estilo tem, em mãos, um dossiê com tudo aquilo que diz respeito à cliente: cores que melhor combinam com ela, maquiagem, corte de cabelo, tipos de roupa, acessórios, etc. Aí vem a limpeza do armário – para abrir espaço físico e mental, como diz Cristina Gabrielli.
Em seguida, e finalmente, as compras! “É quando as clientes têm a chance de experimentar novas propostas”, explica Cristina. Segundo ela, o resultado é maravilhoso: “Já tivemos clientes promovidas, encontrando namorado novo… Tudo isso porque reencontram a auto-estima e a personalidade”, se anima a consultora. E finaliza: “a pessoa logo fica segura para começar a arriscar – e acertar – sozinha no visual”.
Mas lembre-se: não se trata das roupas que você veste, mas sim de quem você é e como isso se reflete no seu exterior. A moda sempre vai existir, por isso é preciso trilhar um caminho próprio, um caminho só seu, respaldado na sua personalidade e também no bom senso e na autocrítica. Com certeza você vai se sentir bem melhor e o resultado final vai ser tão – ou mais – bacana do que capa de revista.
Dicas amigas
Para andar na moda sem correr o risco de ela dominar você, veja as dicas que o Bolsa de Mulher reuniu para você ficar linda, leve e solta.
Onde comprar: “Elegância não é sinônimo de marca! Existem peças lindíssimas em brechós”, ensina Zizi Ribeiro. “Com certeza podemos ser fashion sem gastar milhões. Aliás, ser fashion é justamente mostrar estilo e personalidade, sem ostentar”, garante Ciça Mattos. E, com criatividade, roupas antigas podem virar novinhas em folha: aumente ou diminua bainhas, corte, tinja, troque botões, aplique brilhos, etc.
Equilíbrio: Ciça Mattos conta que, dia desses, num casamento, se deparou com uma fashion victim de arrepiar! “Ela estava de legging, camisão de malha por cima e botinha ankle boot. Tudo cinza! Partindo do princípio que era um casamento, o look não estava de acordo com a cerimônia, assim como estava exageradamente ‘na moda’. Ela juntou tudo o que foi lançado como tendência de inverno num só visual e chamou a atenção de todos – negativamente, é claro”, relembra Ciça. “Um detalhe a mais: tratava-se de uma mulher de estatura média e ligeiramente acima do peso ideal. Ou seja, legging com camisão de malha não se adequaria a ela em nenhuma ocasião”, completa.
A consultora de estilo Zizi Ribeiro também já viu looks assustadores. “Mulheres gordinhas, com quadril avantajado, de minissaia rodada e bota simplesmente não dá!”, diz Zizi. O segredo é equilibrar os modismos usando uma peça básica e outra da estação. E recuse imitações! Não caia na tentação de pegar aquele look pronto que você viu na novela ou na capa da revista e achou lindo. Pode não combinar com você, com a sua personalidade, estatura, peso, idade, cor de pele etc. Mulheres muito brancas, por exemplo, devem evitar o bege. Negras, por sua vez, devem abusar das cores claras, como o branco, porque favorecem a beleza da cor. Na dúvida, cinza é uma cor coringa, mas deve ser mesclada com branco, amarelo etc. Equilibre as cores vibrantes da moda com tons neutros para não parecer um pavão. E mantenha a autocrítica: se você tiver um pouco mais de idade, não arrisque minissaias, blusas sem manga e calças de cintura baixa, por mais enxuta que você esteja.
Acessórios: componha diferentes looks com acessórios. Brincos, pulseiras e anéis bonitos fazem a roupa parecer nova. “Pulseiras apenas em um braço e nada de excesso de anéis”, recomenda Zizi, que dá outro toque: “cintos também são bem legais, mas devem ser evitados pelas gordinhas para não marcar a barriga”. Aposte, também, nas bolsas. “Se ela for de cor sóbria, você pode ousar com roupas mais coloridas, estampadas. Se ela for colorida e chamativa, vista calças tradicionais, de cores neutras como o preto, marrom, cinza ou mesmo jeans. Blusas na mesma linha”, ensina Ciça. Baixinhas, muito cuidado com os bolsões, brincões e outros “ões”! São superfashion, mas podem engolir vocês e deixá-las apagadas.
Estampas: para quem não está certa de como combiná-las, melhor não arriscar! Na moda, é muito fácil errar. Prefira jogar peças lisas com estampas. E não se esqueça que bolinhas e listras horizontais engordam, enquanto as verticais emagrecem. As estampas de bicho estão de volta, com força total. Use em uma bolsa, sapato ou cinto. Nunca tudo junto, evite a poluição visual! Seguir a velha máxima “menos é mais” funciona sempre: na dúvida, tire alguma coisa do look.
Basicão: não deixe faltar, no seu armário, aquelas peças clássicas, porque com elas se compõem muitos visuais diferentes. Jeans liso, camisas brancas, calça preta, terninho e blazer escuros ou caramelo e saia preta.