Verão é sempre assim: todo ano chega com uma receita que vira mania. Já houve a época do Kir Royal, drink que misturava champanhe com licor de cassis; o creme de papaia com o mesmo licor de cassis (deve ter sobrado muito licor de cassis depois que a moda do Kir passou) e por aí vai. Pelo jeito, esse ano, a grande moda é o capim-santo.
O capim-santo é uma gramínea nativa das regiões tropicais da Ásia, muito usada na culinária oriental. Aqui, pelos nossos lados, ela é usada principalmente como chá e é famosa por seu poder curativo que, segundo a Wikipédia, inclui propriedades sudoríficas, analgésicas, calmantes, antidepressivas, diuréticas e expectorantes, além de ser bactericida, hepato-protetora, antiespasmódica, estimulante da circulação periférica e estimulante estomacal e láctea.
Como as folhas de manjericão são mais escuras e oxidam mais rápido, o brigadeiro de manjericão fica mais escuro que o de capim-santo, mas é um doce igualmente interessante, intrigante e que tem tudo a ver com o nosso verão
Também segundo a Wikipédia, sinônimos de capim-santo são capim-cidreira, erva-cidreira, chá-de-estrada, chá-de-príncipe, chá-do-gabão, capim-cidrão, capim-cidrilho, capim-cidró, capim-de-cheiro, citronela, capim-cheiroso, capim-catinga, patchuli, capim-marinho, capim-membeca e palha de camelo, só que sobre isso eu prefiro não discutir porque já entrei em uma briga de morte com uma prima que sabe tudo de ervas aromáticas e me jurou que capim-santo é uma coisa, capim-cidreira é outra e erva-cidreira é uma terceira, totalmente diferente. Enfim…
Voltando à moda do capim-santo, está sendo comentadíssima uma receita de sobremesa criada em um restaurante do mesmo nome, em São Paulo: o Brigadeiro de Capim-Santo. Eu provei e achei um espetáculo, mas como não consigo parar quieta, resolvi tentar trocar o capim-santo por manjericão para ver o que acontecia. E não é que deu certo? Como as folhas de manjericão são mais escuras e oxidam mais rápido, o brigadeiro de manjericão fica mais escuro que o de capim-santo, mas é um doce igualmente interessante, intrigante e que tem tudo a ver com o nosso verão. E como tudo o que sai nessa coluna, é fácil de fazer que dá até dó.
É assim, ó:
Brigadeiro de manjericão
1 lata de leite condensado
160 gramas de chocolate branco (uma barra grande), picado
1 xícara de leite
1 punhado de manjericão fresco (eu usei umas 20 folhinhas bem verdes)
Açúcar de confeiteiro para enrolar
Bata no liquidificador o leite com o manjericão e coe o líquido verde em uma peneira de trama fechada. Despeje em uma panela e adicione o leite condensado e o chocolate branco. Leve ao fogo baixo e mexa até engrossar.
Má notícia: por causa do leite, a mistura demora um pouco para engrossar. Também por causa do leite – sempre ele – você será obrigada a ficar mexendo sem parar porque, quando ferve, seu doce tem grandes chances de transbordar, derramar, sujar seu fogão e estragar sua receita e seu humor. Assim, não. Não pode ver TV enquanto mexe; nem conversar ao telefone, nem secar só a franja, nem pegar o sapato. O leite, segundo dizia uma empregada da minha tinha, tem uma “vontade própria” que o faz derramar APENAS quando não tem ninguém olhando. Não descuide.
Quando chegar a algo parecido com o ponto do brigadeiro de chocolate – que desgruda do fundo da panela – tire do fogo e ponha num refratário para esfriar mais rápido. Se você for como eu, é capaz até de pôr logo na geladeira para esfriar mais rápido ainda, mas aí é com você.
Para enrolar, unte as mãos com manteiga (eu SEMPRE prefiro manteiga a margarina), faça bolinhas, passe no açúcar de confeiteiro e coloque em forminhas. Se você tem filhos, sugiro deixá-los fora dessa na hora de enrolar. Digo isso porque da primeira vez que fiz a receita, eles comeram tanto, que quase não sobraram doces para servir depois.
Para transformar seu brigadeiro de manjericão no badaladíssimo brigadeiro de capim-santo, basta substituir o manjericão pelo dito cujo. É sucesso garantido ou seu dinheiro de volta.
Se a idéia for esnobar mesmo na criatividade, faça as duas receitas e intercale os docinhos na hora de servir. Como os tons de verde são diferentes, o arranjo fica bem interessante.
Outra possibilidade para o caso de você ter mais o que fazer do que passar a tarde enrolando docinhos é comprar copinhos minúsculos de cachaça (nos bares, eles são usados para servir doses de pinga. Dá pra comprar até em supermercados e são muito baratos) ou pegar aqueles copos lindos de licor que eu sei que você herdou da sua avó e servir doses individuais de docinhos “de colher”. Nesse caso, deixe o ponto um pouco mais mole.
Mais uma cria desse modismo é o Bicho-de-pé. Apesar de detestar o nome, gosto muito do doce. Depois de testar várias receitas que levavam gelatina de morango em pó e sempre achá-las meio enjoativas, me reconciliei com o Bicho-de-pé quando achei uma receita SEM a tal da gelatina. Aí vai ela:
Bicho-de-pé
1 lata de leite condensado
1 gema
1 colher (sopa) de manteiga
Corante vermelho em pó (compre em casas de artigos para festas) até ficar com uma cor rosa bem viva.
Açúcar de confeiteiro para enrolar
Coloque tudo em uma panela e leve ao fogo baixo, mexendo sem parar até desgrudar do fundo da panela. Transfira para um refratário untado, espere esfriar, enrole no açúcar de confeiteiro e coloque em forminhas individuais. É claro que aqui também vale a dica de deixar o ponto mais mole e servir em copinhos de cachaça.