O ritmo de cada criança > Não queime etapas

Outro argumento é o de que a criança é muito esperta e já sabe tudo o que será trabalhado naquela turma. Na verdade, o que deve ser considerado para determinar a turma adequada àquela criança não é o que ela sabe, mas o que ela tem condições cognitiva e afetivamente de saber – é sua maturidade. Muitas vezes, ela é adiantada no Jardim, mas chega um dado momento em que não consegue mais corresponder ao que é exigido dela naquela série específica, por que ainda não tem as estruturas cognitivas necessárias para dar conta. Quando não acontece uma reprovação, a criança vive uma constante pressão e esforço exagerado, o que interfere, inclusive, em sua auto-estima.

É preciso controlar a ansiedade. Acompanhar as conquistas do filho é extremamente prazeroso, assim como o é para a própria criança

Podemos ainda pensar em algumas outras situações como querer tirar a fralda antes da criança estar efetivamente preparada para isso, ou ainda o uso do andador para que o pequeno ande mais rápido. São inúmeros os exemplos em que percebemos o “queimar de etapas”. Podemos questionar a validade desta atitude se não conhecemos nenhum adulto em condições saudáveis que use fralda ou que não tenha aprendido a andar!

A necessidade de antecipar o desenvolvimento da criança é dos pais. É preciso controlar a ansiedade. Acompanhar as conquistas do filho é extremamente prazeroso, assim como o é para a própria criança. Ela, aliás, deve contar com seus próprios recursos, descobrindo e explorando gradativamente suas possibilidades para superar os desafios que lhe são apresentados. Transpor os obstáculos por si própria e no tempo certo (e cada um tem o seu) é importante para o seu amadurecimento emocional, para sua auto-estima. Os pais podem e devem auxiliar neste processo, dando apoio e valorizando cada conquista e não oferecendo recursos externos para que a criança seja mais rápida.

Contribuir para o crescimento pessoal do filho requer muito trabalho, pois à medida que cresce, o pequeno vai experimentado e desenvolvendo possibilidades em lidar com situações novas de tudo o que lhe é oferecido e que está ao seu redor. Neste momento começa o trabalho e a disponibilidade da família em compartilhar com a criança suas descobertas. Pois para aprender a comer sozinha, ela tem que se sujar; para aprender a andar, tem que cair e por aí vai … É preciso suportar a sujeira e a bagunça para permitir que o filho cresça.

Em compensação, quando essas fases são bem vividas, passam a ter uma relação de troca muito agradável para a criança e igualmente para quem está cuidando dela. Afinal, embora a coluna possa doer, nada melhor que dar a mão para a criança servindo de apoio para que ela aprenda a andar.

Então, não se trata nem de acelerar nem de poupar o desenvolvimento do filho, mas de curtir e acompanhar cada etapa. É claro, se perceber que algo não vai bem ou de fato está fora do que é esperado, vale procurar um especialista. Mas nada de comparar seu filho com o sobrinho ou outras crianças, pois cada uma tem seu ritmo, lembra?

Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.