O parto de lótus é um parto no qual, após o nascimento do bebê, espera-se também o nascimento da placenta, fazendo com que o bebê permaneça ligado à mãe através do cordão umbilical, que não é cortado após o parto. Essa ligação permanece até que haja uma queda natural. A britânica Adele Allen passou por essa experiência no nascimento dos dois filhos e, no parto mais recente, o bebê ficou por seis dias ligado a ela. “Foi uma experiência de parto relaxado, no qual pudemos experimentar o momento especial de ligação do contato pele a pele sem interrupções”, disse ao site mom.me. A história foi divulgada também pelo tablóide britânico Daily Mail.
Leia também:
Famosa diz comer placenta após o parto: isso poderia mesmo ter benefícios? Entenda
Cortar o cordão umbilical na hora certa evita anemia em recém-nascido
Vídeo: mulher dá à luz e desenrola cordão umbilical do pescoço do bebê sozinha
Segundo Adele, o procedimento faz com que o bebê receba até 50% a mais de sangue da placenta, além de células vitais do cordão que aumentam a imunidade e ajudam a diminuir a possibilidade de desenvolver alguns problemas de saúde, como a anemia. Ela diz ainda que desenvolveu uma conexão maior com os filhos no período em que estiveram ligados e que pode respeitar as necessidades do próprio corpo no período pós-parto. “Mas não posso dizer com certeza que isso fez a diferença na qualidade de vida deles. Acho que isso é algo que nunca poderia ser comprovado”, pondera.
Benefícios do parto de lótus
O ginecologista e obstetra Alberto Guimarães afirma que esse tipo de parto realmente tem benefícios e explica melhor quais são eles. “Esta espera para a ligadura tardia do cordão é muito importante, porque esse sangue continuará levando oxigêniopara o bebê, levando também ferro, nutrientes, hormônios, substâncias importantes que, de fato, ainda pertencem a esse bebê”, afirma.
Portanto, segundo o especialista, não há motivo para correria para cortar o cordão rapidamente. “Eu defendo a ideia deesperar o cordão parar de pulsar para depois cortar, ou esperar sair o cordão e a própria placenta para então fazer essa separação e cortar o cordão. Esse corte do cordão umbilical tardiamente é mais bem observado no parto normal, mas é possível também em cesarianas, pois há um período que se pode aguardar o cessar do batimento do cordão, embora seja mais breve”, diz.
Cuidados com o cordão e a placenta

Ele explica ainda que a média de tempo para ficar com o bebê ligado sem cortar o cordão umbilical é de 3 a 4 dias, dependendo de cada caso. Nesse período é necessário ter alguns cuidados especiais com a placenta, principalmente em relação aos odores, porque ocorre uma putrefação. “Existem técnicas para esse cuidado e que não devem ser negligenciadas mesmo, pois, caso contrário, a placenta em decomposição pode atrair insetos e levar uma contaminação desse bebê”, alerta.
No caso de Adele, ela contou ter utilizado sal grosso e pétalas de rosa para manter o cheiro mais agradável. “Fazia isso antes de embrulhá-la em um pano, que era trocado periodicamente. E, para transportar, eu deixava a placenta em uma bolsa térmica de mão, que fez com que tudo permanecesse arejado e limpo”.
Parto de lótus no Brasil
Apesar de apontar os pontos positivos, o médico diz que o parto de lótus não é uma prática defendida pelos médicos de maneira geral e está longe de ser defendida e incorporada no dia a dia da assistência. “Apenas para fazer um paralelo para nascimentos hoje no Brasil, já há uma grande dificuldade de mostrar a importância de um parto normal e de um parto humanizado. Imagine querer convencer alguém a deixar essa placenta aderida, grudada ou dar alta pra mulher e lá vai a mulher, o cordão e a placenta todos juntos. Ia ser um desafio”, diz.
Uma alternativa mais adequada, segundo ele, seria o estímulo ao parto normal ou humanizado, defendendo os princípios básicos da necessidade da mulher no trabalho de parto e fazendo um contato pele a pele imediatamente após o nascimento do bebê, deixando o cordão pulsar até parar ou até descolar, sair a placenta e só depois cortar o cordão. “Acho que assim muito do ganho que é defendido no parto de lótus já estaria contemplado, sem a necessidade de você tomar uma série de providências com esse cordão e essa placenta sendo transportada em condições que podem também levar a outras complicações”, finaliza.