Quanto tempo deixar o vérnix? Tiktoker não dá banho em bebê por semanas e gera dúvida

Ouvir palpites durante a gravidez é inevitável, ainda mais com as redes sociais e os produtores de conteúdo, que muitas vezes, compartilham suas opiniões e experiências como forma de acalmar e acolher. Consumir postagens e vídeos tende a fazer bem para as mães, em especial as de primeira viagem, porém, é preciso muito cuidado, pois algumas informações podem não ter uma comprovação científica ou funcionam para alguns bebês e outros não.

Mãe decide não dar banho em recém-nascido por semanas

Um caso recente, o da influenciadora americana Shahnta Hoare, é um exemplo para ser ponderado. Em seu perfil no TikTok, ela falou que seu quarto filho, Ozzy, com pouco mais de um mês de nascido, ainda não havia tomado banho, pois, segundo Shahnta, o intuito era que a pele do bebê tivesse tempo suficiente para absorver o vérnix caseoso.

Na postagem, a tiktoker disse que é costume em sua casa não dar banho em recém-nascido. “Nós, normalmente, não damos banho durante o primeiro mês. Manter o vérnix na pele por ser muito hidratante, até meio oleoso. Meu filho está com vérnix no pescoço, orelhas, dedos, e em algumas dobrinhas. Sei que, para algumas pessoas, pode parecer nojento, mas, para o bebê é muito bom. E, provavelmente, não vou dar banho por mais algumas semanas”, falou ela, na postagem, que foi duramente criticada pelos internautas.

https://www.tiktok.com/@hoareboys/video/7097728512630607147?is_copy_url=1&is_from_webapp=v1&q=Shahnta%20Hoare&t=1655994760179

Por que o bebê nasce com vérnix?

Segundo Clery Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, o vérnix caseoso é formado no último trimestre de gestação pelas glândulas sebáceas. “Trata-se de um composto lipoprotéico, na forma de creme celular e com poder de filme hidrofóbico, protegendo a pele do feto do meio líquido”, responde a médica.

De acordo com Juliana Loyola, médica especialista em Dermatologia Pediátrica e parceira da Mustela, marca de cuidados para as mães e bebês, durante a gestação, a função do vérnix é formar uma película impermeável e proteger a pele do bebê do contato com o líquido amniótico. “Após o nascimento, sua composição permanece a mesma e ele passa a ter uma função de auxiliar no controle de temperatura do bebê, além de conferir maior hidratação da pele e maior proteção contra microrganismos patogênicos”,
explica Juliana. Quando o parto é prematuro, o bebê fica mais vulnerável devido à imaturidade da barreira da pele, dificultando os mecanismos adaptativos após o nascimento para o meio frio, seco e não estéril.

Em 2021, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) fez um documento atualizado de orientações de cuidados com a pele do bebê recém-nascido. A orientação é de que o vérnix não deve ser removido nas primeiras horas de vida, exceto quando houver risco de transmissão de doenças maternas, como o HIV, por exemplo. Por todo o benefício da manutenção do vérnix, o ideal é que o primeiro banho seja dado somente após 24 horas do nascimento.

Quanto tempo deixar o vérnix?

Ao comentar o caso da influenciadora americana, Clery revela que, na literatura científica, não há suporte para não realizar a remoção da sujidade da pele dos bebês após completarem as primeiras 24h de vida, já bem adaptados. “A manutenção de sujidade, como, por exemplo, no coto umbilical, pode levar a infecções graves nos primeiros dias de vida”, ressalta a médica.

Depois das 24h e o primeiro banho, a orientação da SBP é de que a higienização do bebê não precisa ser diária, sendo indicado o período de 2 a 3 vezes por semana. “A decisão da frequência dos banhos do bebê deve ser tomada junto ao pediatra e a família, respeitando questões culturais, ambientais e desejos das famílias. O banho tem função de higiene, especialmente de regiões como as pregas, cordão umbilical e área de fraldas”, indica Juliana.

Primeiro banho do recém-nascido

ShutterStock

Existem várias evidências científicas que a manutenção do vérnix favorece a amamentação. “Existe um estudo, feito recentemente pela SBP, que analisou um grupo de recém-nascidos cujo banho foi feito depois de pelo menos 12 horas, e outro grupo que tomou banho depois de 2 horas. Nos bebês com ‘banho atrasado’, a taxa de amamentação exclusiva aumentou. Ou seja, o contato da pele da mãe e do bebê por mais tempo pode ajudar no aleitamento, por ter mais interação entre os dois e até pelo recém-nascido sentir o cheiro da mãe e ficar mais calmo, aumentando o vínculo entre os dois”, explica Daniela Piotto, pediatra do Fleury Medicina e Saúde.

Cuidados no pós-parto e na amamentação