Depois que as receitas de beleza caseiras deram lugar a uma inumerável diversidade de potinhos com promessas milagrosas e componentes de nomes curiosos, muita gente começou a questionar a eficácia daquilo que às vezes chega a custar o trabalho de um mês inteiro. Vitaminas rejuvenecedoras, ácidos que sentenciam o fim das células mortas, nutrientes que garantem praticamente a hidratação eterna da pele. Será que tanta inovação compensa o alto custo? As opiniões são diversas. Há quem garanta que é tudo jogada de marketing para seduzir o público feminino ávido por novidade. Há também quem acompanhe pessoalmente todo o processo de pesquisa e fabricação e ateste sua eficácia. Está aberto o debate, e os cosméticos estão no banco dos réus.
O número excessivo de ingredientes nas fórmulas é, na opinião do neurocientista da Unicamp Renato Sabbatini, uma maneira que a indústria cosmética encontrou para incrementar a venda. A maioria desses aditivos, para o especialista, têm ação restrita. “Apesar de misturarem substâncias como vitaminas, algas, extratos de embrião e ácidos aos constituintes básicos dos seus produtos, não existem evidências científicas de que realmente funcionem”, critica. “A moda agora é colocar vitaminas C e E, que pertencem ao grupo das hidrossolúveis e antioxidantes, mas cujo efeitos por absorção cutânea não estão documentados cientificamente. Se as consumidoras soubessem quantos cremes de alto preço possuem substâncias desse tipo, em concentrações de 0,1 a 0,5%, muito abaixo da sua dose efetiva, certamente não iriam gastar seu suado dinheirinho neles”, alerta.
A dermatologista Denise Steiner não concorda. Para ela, há uma evolução real e inovadora na linha de produtos. “O avanço é nítido. As marcas estão realizando pesquisas sérias, muitas vezes, em parceria com renomadas universidades. Eu tenho a oportunidade de comprovar isso pessoalmente nas visitas que faço”, garante a médica, que recentemente visitou uma grande indústria de origem japonesa e outra gigante da venda domiciliar. Denise explica que, geralmente, o preço do produto final pode estar relacionado com o tempo, às vezes anos a fio gastos em pesquisas para se criar o cosmético. A engenheira química especializada em cosmetologia Sônia Corazza compartilha da opinião da médica e aconselha à consumidora a pensar sempre na relação custo/benefício na hora da compra. “Adequando, evidentemente, a seu orçamento”, sugere.
Além dos altos orçamentos em pesquisas, o fato de ser fabricado por determinada marca e não por outra também pode encarecer o cosmético nas prateleiras. Denise Steiner acha que a compradora precisa ser razoavelmente criteriosa na hora da escolha. “Há que se levar em conta também o lado mercadológico da questão. A pessoa deve estar consciente que poderá estar pagando pela grife. Isso é um critério individual que a consumidora aceita ou não. Não é o preço que vai abalizar o produto”, explica a médica. A advogada Ana Lúcia Valle tem o hábito de comprar a linha completa de hidratantes, esfoliantes e adstringentes de marcas consagradas. “Sou exigente, pago o que for preciso. O meu problema é que sou meio relaxada. Tenho o hábito de comprar mas não tenho o de passar diariamente. Os cremes acabam ficando mesmo enfeitando a bancada da pia”, confessa. A designer Maria Cristina Furtado é seduzida, principalmente, pela embalagem, cor e consistência do produto. “Nunca compro pela internet ou por catálogos. Preciso sentir o cheiro e tocar no creme para ver se gosto ou não”, diz Maria Cristina.
Para não trocar gato por lebre, a engenheira química Sônia Corraza aconselha a optar, sempre que possível, por produtos de empresas idôneas que “mostrem a cara”. De preferência, com algum tipo de serviço de atendimento ao cliente. “É importante que esse fabricante possa responder prontamente às dúvidas da consumidora, enviando também, quando necessário relatórios sobre as pesquisas para a criação do produto”, ensina a especialista, que é consultora do SENAC-SP.
A engenheira química prefere também indicar cosméticos nacionais, com fórmulas climatizadas. “Muita gente compra, por exemplo, um shampoo na França e o cabelo fica maravilhoso lá. Quando volta para o Brasil, o efeito não é o mesmo. Isso acontece porque lá a água é calcárea, o clima é mais frio e a alimentação é outra. Não quero dizer que as fórmulas importadas são ruins. Mas deve-se ver se o produto comprado se adapta ao clima tropical e ao dia-a-dia da brasileira”, explica.
Uma visita a um dermatologista, segundo Denise Steiner, também é essencial para quem deseja acertar. “O profissional vai otimizar uma fórmula específica para a paciente, tornando o tratamento mais eficaz. O que não o impede de receitar algum produto pronto que ele conheça bem o princípio ativo”, esclarece. Na opinião da médica, atualmente, a maioria dos dermatologistas tem formação em cosmeatria e estão aptos a receitar produtos. A professora aposentada Suely Caldeira conseguiu tirar algumas manchas do sol que a incomodavam há mais de 20 anos desde que começou a usar produtos feitos em farmácia de manipulação com a receita da dermatologista. “Esses cremes e loções são personalizados e custam bem menos”, conta Suely.
Enfim, não se deve colocar todas as expectativas nos cremes, alguns são fabulosos, mas a beleza está também associada a uma vida saudável e harmônica e, principalmente, à realização pessoal. Afinal, ainda não foi descoberto algum cosmético que traga brilho ao olhar.
Agradecimentos:
Renato Sabbatini
Neurocientista da Unicamp – SP
Divulgador Científico
http://geia.nib.unicamp.br/~sabbatin/
Sonia Corazza
Engenheira Química especializada em cosmetologia
Pesquisadora do SENAC-SP
Autora do livro Beleza Inteligente,
de Sonia Corazza, Editora Madras.
Denise Steiner
Dermatologista
Clínica Stöckli
Rua Eng. Edgar Egídio de Souza, 420, Pacaembu – São Paulo
Tel: (11) 3825-9955