Bolsa de Mulher – Como surgiu o Renascer?
Vera Cordeiro – Sou médica, clínica geral, trabalhei 20 anos no Hospital da Lagoa, dez com adulto como clínica e dez na pediatria. Em 1979, criei o setor de medicina psicossomática do hospital, o primeiro dentro de um hospital público. Esse setor já existia em hospital particular e hospital-escola. Enfim, quando trabalhava com adulto, não tinha vontade de fundar algo social porque o adulto sobrevivia se tinha comida, não dava aquele desespero de ver a pessoa morrendo. Quando fui trabalhar na pediatria para ajudar as mães e crianças a lidarem com sofrimento, me dei conta de que a mãe miserável lidava com a doença muito mais facilmente do que pessoas com a nossa classe social. É claro que a tristeza é idêntica, a tristeza de você ter um filho doente é enorme para ambas as partes. O que eu me dei conta foi que as mães ficavam desesperadas quando saíam do hospital. Por exemplo: a criança com câncer faz quimioterapia no hospital, vai para casa, volta algum tempo depois para fazer quimioterapia e assim vai. E todas as doenças crônicas são assim, problemas renais crônicos, cardiopatias, neuropatias… A mãe ficava desesperada quando tinha alta do hospital porque ela voltava para o local que, muitas vezes, tinha criado a doença. Não um câncer, mas por exemplo uma pneumonia. A pneumonia é uma desculpa para a miséria aparecer. Por trás de uma pneumonia tinha uma criança com pai alcoólatra, que já não funcionava como pai afetivamente e de forma econômica, e uma mãe com uma média de quatro filhos. A mãe observava isso. O trabalho no hospital era cavar um buraco na areia porque você tratava o paciente e ele ficava praticamente curado. Além de não poder continuar o tratamento, ela não tinha comida, chovia dentro da casa dela, não tinha dinheiro, ela estava deprimida… era uma catástrofe total. Muitas mães chegavam para mim e pediam para eu levar os filhos delas para minha casa porque não tinham como sustentar. Via mães com filhos com doenças terminais que não tinham condição de comprar analgésico. Eu percebi um círculo, que é o programa básico que o Renascer atacou, que é miséria, internação, reinternação e morte. Isso é uma desgraça.
BM – Você ainda trabalha no hospital?
VC – Trabalhei 20 anos no hospital e, em 98, me aposentei. Foi aposentadoria proporcional ganhando menos. Eu achei que ia me aposentar e ia ter um tempo pra mim. Mas o Renascer invadiu o momento que eu usava para trabalhar no hospital porque a necessidade é muito grande. A preocupação de nós todos é crescer de uma forma que não destrua os projetos.
BM – Você copiou algum modelo existente?
VC – Não, absolutamente nada. Na verdade, meu marido nessa época já era gerente da IBM (depois ele virou diretor) e eu viajava o mundo inteiro, esquiava em Lake Tahoe com minhas filhas. Eu ficava desesperada porque percebia que com o dinheiro do tênis Reebok que eu ia comprar para minha filha, eu podia comprar três Alfares (leite especial). Aí eu comecei a ficar pirada, fazia um eletrocardiograma por semana, eu tinha a dor física, achava que estava enfartando. Muitos colegas meus sugeriam para eu sair da pediatria e trabalhar com adultos. Diziam que eu não podia carregar o mundo nas costas e que ou eu era médica ou eu me envolvia com os pacientes. Eu dizia que queria ser médica e me envolver com os pacientes. Não dá para eu ver um problema e ficar cega para ele. Eu me lembro que escrevi um projeto num domingo à tarde e ele já era o embrião do Renascer. Era impossível tratar uma doença sem entrar na situação social da família, principalmente em país de terceiro mundo. O profissional de saúde é quem vê a tragédia final e a perversidade nesse país. A diferença social é tão grande e há pouquíssimas portas abertas para melhorar. A criança não morre se a escola pública está fechada. E os hospitais públicos, por mais ineficientes que sejam, têm sempre as portas abertas por causa da fila, eles têm as portas abertas para a doença. Doença entre aspas porque, na verdade, a doença em nosso país é uma desculpa para os miseráveis pedirem socorro. Mas socorro pra quem? Para os hospitais que estão sucateados em termos de material físico, para médicos que estão sem aumento de salário há mias de cinco anos, para enfermeiras que ganham uma miséria. Os profissionais de saúde estavam vivendo na linha-limite da sobrevivência deles. Eu tive o luxo de criar alguma coisa porque eu não precisava trabalhar por dinheiro. Se eu fosse uma médica comum, teria que trabalhar no hospital pela manhã e à tarde no consultório. Isso eu fiz no início da minha carreira, depois não precisava mais e podia só me dedicar a um hospital público, por um salário cruel. Diante disso tudo, percebi que a área de saúde no nosso país tinha que ser tirada da mão dos profissionais de saúde. A tragédia é tão grande que líderes me disseram em Washington que precisam de Renascer lá também, o problema é o mesmo. Os países ricos escondem a miséria. Lá não é tão gritante e o número não é tão grande, mas existe o mesmo drama. Esse problema básico que o Renascer tenta ser a solução, é a solução em qualquer lugar do mundo. Eu acho que esse modelo vai se multiplicar em uma larga escala no mundo.
BM – Por que você acha que o Renascer deu certo?
VC – Eu acho que o Renascer é um sucesso porque é um projeto limitado. O Doutor Luís Carlos Vieira Teixeira, que é diretor do conselho e foi diretor do hospital, dizia que o Renascer deu certo porque é um projeto fechado que só atende crianças que estiveram internadas no Hospital da Lagoa, e que ele tem alma, não é cristalizado. Eu podia ter contratado 50 assistentes sociais, 30 psicólogos para atender a população que vem aqui. São duas mil pessoas que a gente ajuda por mês, 400 famílias. Eu sempre tive a idéia inovadora que você, jornalista, uma dona de casa, ou um estudante podem contribuir para a saúde da pessoa. Para mim, a saúde é muito dinâmica, não é só uma questão de remédio e de internação ou de tratamento. A medicina tradicional está baseada no modelo biomédico, anatômico. Eu acho que existe muito mais aspectos que no futuro vão ser levados em consideração. Da personalidade da pessoa que faz com que ela cresça mantendo a saúde adequada ou adoeça, isso se não é no plano físico, é no plano emocional. Eu acho que o melhor remédio para gente é gente, não é comprimido. A elevação do Renascer é tirar o poder concentrado na chamada equipe de saúde e ver como pessoas comuns podem se tornar médicas e terapeutas entre aspas. Eu acredito que cada um de nós tem um afeto dentro de si e não existe situação que desperte mais afeto do que uma mãe miserável com filho doente. Isso mobiliza recursos internos e externos dessa pessoa para ajudar a família inteira. A transparência de contabilidade e de ações. Outro motivo do sucesso é o fato da ONG ser extremamente transparente, não existem problemas graves, mas circunstanciais como limitações físicas de espaço. E você sabia que todo mundo quer ser voluntário? Há uma fila de 40 pessoas esperando e eu adoraria colocar todos. No momento, não há necessidade de voluntários e sim de associados. Queremos que esse modelo se multiplique pelo país inteiro, que cada hospital público tenha o seu Renascer. No fundo é uma franquia social. Já foi multiplicado perto de dez hospitais públicos, cada um com a mesma maneira. Um em São Paulo, um em Recife e oito no Rio. As pessoas vieram aqui desde o início e copiaram tudo, nós demos tudo. Graças a Deus, as dez pessoas que fundaram são extremamente idôneas e comprometidas com essa mesma situação.
BM – Fale da participação de empresas que ajudam a Instituição.
VC – A Arthur Andersen faz auditoria para a gente há um ano. Tem um capítulo fundamental que é a McKinsey. O Frederico Oliveira, um dos donos, percebeu que precisávamos de ajuda porque a filosofia do Renascer era muito forte mas nós não tínhamos um background de empresa, de organização. A partir desse momento, há quase quatro anos, ele mobilizou diversos consultores e ele foi colocando esses consultores diariamente aqui. Têm várias metas que a McKinsey se propôs e está cumprindo brilhantemente. Essa consultoria é completamente gratuita e você sabe que um consultor é muito caro. Eles ajudam a estruturar cada projeto nosso. Tem a Ashoka também. Eu diria que essas três empresas foram os principais parceiros da gente nesse sucesso. A Ashoka é uma instituição internacional com sede em Washington que ajuda empreendedores sociais. Ela investe em pessoas, tem mil empreendedores sociais espalhados pelo mundo, ligados à área social, ecologia, direitos humanos, saúde, criança… Bem no início, quando eu batia palma para cada lata de leite que chegava aqui e não tínhamos recursos, a Ashoka chegou no Renascer e eu achei que estava ficando louca. Eu tinha ligado para um amigo, o João Cláudio, e disse que precisava de muito dinheiro e ele falou para eu procurar a Ashoka. Foram quatro meses de entrevistas, eu já estava ficando desesperada. Chorei quando fui finalmente eleita porque eles me compreenderam e me deram uma identidade: empreendedora social. Recebi uma bolsa de US$ 650 durante três anos e esse se tornou o único dinheiro fixo no Renascer, pois tínhamos pouco dinheiro de sócios nessa época. O Chico Mendes foi um fellow (parceiro) da Ashoka, eles ajudaram o ecologista bem no início. Eu sempre tive a sensação que o Renascer ia ter um grande impacto social mas não estava muito claro de como ‘de retalhos’ íamos chegar na McKinsey ou na Arthur Andersen.
BM – Fale do começo:
VC – Fundei o Renascer em 91 no playground do prédio onde eu moro. Convidei um grupo de médicos e rifei um lençol que minha mãe tinha me dado. Foi no dia 25 de outubro de 1991. Aí comecei a rifar objetos da minha casa. Rifava também retalhes doados por fábricas de tecidos. Depois comecei a arrecadar dinheiro com amigos, associando pessoas para pagarem uma taxa mensal – que hoje equivale a R$ 20 – e prestava contas desse dinheiro. Para mim, era fundamental que aquela criança que eu via no dia seguinte continuasse o tratamento. Ficamos na estrebaria no Parque Lage durante seis anos, não tínhamos essa sede. Fomos expulsos da estrebaria e eu não me conformei. Ficamos num trailler, dentro do Parque Lage, durante um ano. O Parque Lage é perto do Hospital da Lagoa e é o local onde as pessoas que têm recursos podem ajudar. Através da ajuda da Cristina Gouvêa Vieira, mulher do Presidente da FIRJAN e diretora do Renascer, conseguimos acabar essa novela judicial. O Presidente Fernando Henrique assinou um decreto propiciando que o Renascer ficasse no Parque. O Banco Icatu doou essa sede. O final foi feliz mas foram dois anos de batalha judicial, tive que recorrer até ao Presidente da República. Em fevereiro de 99, a Dona Ruth inaugurou a nova sede, ela deu muito apoio, até indicou a gente para o primeiro prêmio internacional que ganhamos. Nós já ganhamos sete prêmios. A família Fraga – Lucyna, Amínio e Margie – foi fundamental para nosso sucesso. A Lucyna e o Armínio Fraga emprestaram a casa onde funcionava o consultório do doutor Silvio Fraga. Lá funciona nossa segunda sede. Os cursos profissionalizantes são dados nessa casa aqui no bairro do Jardim Botânico. O Armínio, que é Presidente do Banco Central, veste nossa camiseta quando faz jogging na praia. A Lucyla é diretora do Renascer e coordena o Projeto Anzol, um dos mais promissores. Eles deram tudo para a gente.
BM – Qual o foco do projeto?
VC – Nosso foco é a família miserável, existe uma equipe multidisciplinar de triagem no Hospital da Lagoa, são funcionários que fazem esse serviço voluntariamente. Atendemos pessoas que têm, em geral, renda de menos de um salário mínimo. A McKinsey nos ajudou a separar três tipos de família. A família branca tem criança com doença terminal. No fundo, vamos ajudar a morrer. Vou morrer eu, morrer você, morrer todo mundo, mas morrer com dignidade e remédio é muito diferente do que morrer sem nada. Vi isso várias vezes no hospital. Já para a família amarela e verde, temos o objetivo principal de colocar a família em pé, torná-la auto-sustentável. A família verde tem criança com doença infecciosa, que vai ficar curada, vai ter alta no hospital, vai sair do antibiótico intravenoso e vai passar para o oral. O Renascer vai dar remédio e comida e essa família vai passar por cursos profissionalizantes, dentro da instituição ou fora, nos cursos conveniados. Noventa por cento das famílias que chegam são chefiadas por mulheres, 95% não tem homem. Elas têm um namorado que faz outro filho mas não têm um homem funcionado afetivamente e financeiramente. Elas são totalmente sozinhas e têm cerca de quatro filhos. A família amarela tem criança com doença crônica, cardiopatia, neuropatia, anemia falciforme, desnutrição… A gente faz com que a família lide com a doença de uma forma melhor e se torne auto-sustentável. A diferença entre essas três cores é em tempo de permanência. A verde fica, em média, oito meses, a amarela fica de 12 a 14 meses e a verde cerca de dois anos. Depois a gente encaminha para um padrinho que vai acompanhar essa família para podermos aceitar outras famílias. Vou dar um exemplo: tinha uma mãe cabeleireira com uma filha que se reinternava várias vezes com pneumonia. Chovia dentro da casa dela. A menina ficou completamente curada depois que consertamos o telhado da casa. A mãe fez também o curso de cabeleireira com a gente e começou a ganhar dinheiro. Você sabe, nas comunidades carentes, as mulheres perdem tudo, menos a vaidade, elas fazem unha e cabelo. O ex -marido dela, que só aparecia para fazer filho, achou que ela tinha arranjado um homem. Ela disse: “meu homem é o Renascer”.
BM – Fale da profissionalização:
VC – Há três formas. O oficina I e a doação de instrumento de trabalho. Criamos, com a ajuda da Mckinsey, o micro-crédito, o pai paga aos poucos aquele instrumento de trabalho. Esse dinheiro devolvido vai ajudar a outras famílias. Doamos, por exemplo, um freezer para uma mãe vender refrigerantes na favela. Ela se tornou auto-sustentável. A oficina II é composta por cursos profissionalizantes. Descobrimos que várias famílias não têm escolaridade suficiente para freqüentar o SENAC. Temos curso de cabeleireiro, costura, bordado, pintura em tecido, manicure e de computação, para o filho adolescente ajudar no orçamento familiar. Os cursos têm duração de três ou quatro meses. A Silvia é coordenadora do projeto. Existe também a oficina III, o Projeto Anzol, coordenado pela Lucyna Fraga.
BM – O que é o Projeto Anzol?
VC – A gente chama Anzol porque é ensinar a pescar e não dar o peixe. Algumas mães produzem produtos que são lindos (lençóis, nécessaires, capas de óculos, pano de prato, boneco de pano do Renascer chamado Chiquinho…) e que precisam ser vendidos. Nós precisamos urgentemente de pessoas que doem um quiosque num shopping, não temos dinheiro para pagar e sustentar um quiosque. A Lucyna, uma pessoas de alta credibilidade, está precisando escoar os produtos. A pessoa que vai comprar um lençol vai comprar um produto que tem uma instituição por trás. No Brasil, mais tarde, as pessoas vão comprar um sabonete que tem uma instituição que ajuda crianças pobres. O marketing social está começando a aparecer no Brasil mas ainda está muito insipiente. Teremos no futuro uma cooperativa de mães, agora temos só umas dez mães. A loja Mercado Infantil dá suporte para o Anzol.
BM – Fale do coral:
VC – Nós queríamos ir para um programa de TV e eles não aceitaram. Disseram que criança pobre e doente não dá IBOPE. Fiquei indignada e criei um coral de voluntários e crianças para mostrar a alegria que é trabalhar com criança pobre e doente. O coral foi criado com o espírito de falarmos da nossa alegria e é patrocinado pela Unimed. Uma forma de ajudar-nos é convidar o coral para se apresentar nos locais para divulgar a filosofia do Renascer. A nossa força está na relação bipessoal, voluntária e mãe-pobre, esta relação é poderosíssima. Se eu sou uma mãe pobre e você é uma pessoa de classe média, posso transformar você com a minha história de vida. Muitas voluntárias disseram que renasceram com o Renascer. O Renascer é uma rua de mão dupla. O legal é que uma pessoa cura a outra. A bondade de um amigo pode te curar com uma conversa. A graça é que todo mundo se sente dono, ele foi idealizado por mim mas está sempre sendo recriado, é uma obra de vários co-autores. A instituição está sempre se revitalizando, é uma lagarta virando uma borboleta a cada momento.
BM – E as palestras?
VC – Outro projeto é “Informar para promover saúde”. A gente passa informações sobre doenças sexualmente transmissíveis, acidentes domésticos, adolescência, hepatite B, aproveitamento de alimentos….Temos especialistas dando palestras para as mães. Temos também psicóloga dando apoio emocional. Algumas crianças chegam traumatizadas com a tragédia familiar, espancadas…
Fale do Projeto Madrinha:
VC – Depois do atendimento, a gente colocava madrinha para poder aceitar novas crianças do hospital. Isso também foi reformulado, nosso objetivo é que cada uma das 400 crianças atendidas mensalmente tenha um padrinho. O padrinho e a madrinha doam uma ou mais cestas básicas por mês, cerca de R$ 70 cada. Há padrinhos dando também remédios. Ele recebe mensalmente um relato de tudo que está sendo feito e pode, inclusive, estar com o afilhado dele. O mais importante é que não ajudem só o Renascer, ajudem toda a rede de instituições ligadas aos hospitais: o Reagir, o Refazer, O Reviver, o Ressurgir, o Recomeçar… O nosso projeto é a célula mater de um projeto que vai ter vários filhos Brasil afora. Quanto mais fortalecidas essas instituições estiverem, mais a gente sente que a nossa missão está sendo cumprida. Somos um centro de referência mundial de como colocar uma família em pé. A criança doente é só uma desculpa para salvar a família inteira.
BM – Como fazer doações?
VC – Precisamos muito de sócios, a ajuda pode ser mensal, trimestral ou anual. Um boleto bancário, com a quantia que o sócio estipulou, é entregue pelo correio. O sócio recebe trimestralmente um boletim com todo nosso trabalho, contas financeiras e como está sendo investido o dinheiro. Qualquer sócio tem acesso às contas do Renascer. Temos conta no Banco do Brasil e vai haver a possibilidade do débito bancário. Precisamos urgentemente de padrinhos, temos cento e tanto mas faltam mais de duzentos. Não temos cobradores domiciliares, dá uma confusão danada.
BM –Qual o número de sócios?
VC – Temos entre 1600 e 1700 sócios. Nós ainda temos um orçamento pequeno, temos cerca de R$ 60 mil por mês para ajudar duas mil pessoas. É muito pouco ainda, não dá para reformar todas as casas. Há uma fila de espera para poder reformar. O brasileiro não está muito atento, talvez porque não possa descontar no imposto de renda. A melhor forma de ajudar o Renascer é sendo sócio.
BM – Qual o objetivo da tua viagem à Washington?
VC – Como disse, sou fellow (parceira) da Ashoka. Fui convidada com outros dois fellows (da Polônia e da Índia) para explicar a metodologia das instituições. Eu fiquei muito emocionada porque o Renascer é mais conhecido em Washington que no Rio. É incrível. As fundações americanas que nos conhecem têm um respeito enorme porque sabem da dificuldade que é construir um projeto com essa qualidade. Eu me senti muito honrada de ir lá explicar para os americanos como se trabalha com pobreza e eles têm muita pobreza. Um dos fellow americano me disse que precisavam de três Renascer em Washington pois a realidade era a mesma. Falei na Embaixada do Brasil, expliquei a nossa filosofia para os americanos e brasileiros que moram lá.
BM – O que é ser voluntário?
VC – Em 91, quando fundei o Renascer, eu tinha a noção que o país só ia se modificar se as pessoas oferecessem os seus tempos livres, o lazer. Lazer também é você se voluntariar numa instituição idônea porque você trabalha muito, mas o que você conhece de pessoas boas… Às vezes, é muito mais divertido que ir a um cinema. Voltando à sua pergunta, ser voluntário é uma alegria. Eu fui sete anos voluntária, hoje em dia eu ganho R$ 1600 para ser a superintendente geral. Os voluntários falam para mim que não existe nada que dê mais prazer que as horas que ficam aqui.
BM – Como reconhecer uma instituição idônea?
VC – O voluntário só fica numa instituição quando ela é idônea, ele sabe tudo sobre a instituição. Enquanto os funcionários têm medo de perder o emprego, os voluntários não tem nada a perder. Na realidade, uma instituição só pode abrir suas portas para um voluntário se ela é idônea em todos os sentidos, se tem transparência financeira, se tem objetividade e se o trabalho produz algum impacto social. Vivemos num país que ainda não tem a cultura de voluntariado estabelecida, ela está nascendo. Essa cultura de voluntariado foi muito estimulada pelo Betinho. Eu tive a honra de conhecê-lo.