Mulheres x Futebol

As mulheres não gostam de futebol porque não entendem, ou não querem entender porque não gostam? Talvez seja ciúme ou, quem sabe, represália aos homens que, por natureza, gostam demais de uma “pelada”. Provavelmente, nem Freud teria explicação. Afinal, enquanto eles encaram uma partida como uma grande e irresistível paixão, as mulheres não conseguem enxergar nada além de 22 homens de belas pernas correndo alucinadamente atrás de uma bola. Como se não bastasse, os jogos são narrados – pelo menos para os ouvidos femininos – numa língua bastante semelhante ao alemão ou qualquer outra que seja realmente difícil de entender. Então, como compreender que por esses 90 minutos os homens jogam qualquer coisa para o alto?!

Quem nunca ouviu a célebre frase: “domingo é dia de futebol”? Se vier acompanhado de churrasco, amigos e cerveja nem se fala. E foi exatamente isso que a advogada Luciana Mello não agüentou mais. “Parecia brincadeira, mas o Rodrigo nunca tinha tempo para um cineminha ou para um programa a dois. Dia de semana realmente era complicado. A rotina de trabalho e a faculdade tomavam todo o nosso tempo. Mas quando chegava o final de semana e eu pensava que teríamos um tempo só para nós, lá vinha ele com esses malditos churrascos regados a muito futebol e cerveja”, queixa-se. Como era de se imaginar, o namoro não foi adiante. “Eu até aceitava o Rodrigo jogar o seu futebolzinho vez ou outra, mas quando se tornou uma regra jogar todo domingo, resolvi cair fora. Realmente não era isso que eu queria para mim”, conta, resignada.

Que o diga a professora de Educação Física, Marlene Gomes. Casada com Cláudio, um botafoguense “roxo”, ela nunca poderia imaginar que seria trocada por uma partida de futebol. Muito menos no dia em que os dois completavam um ano de casados. “Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo. Sempre soube que meu marido era doente pelo Botafogo, mas ser trocada, no dia do aniversário de casamento, por 22 homens correndo atrás de uma bola… aí já é demais. E não é só isso, o jogo era numa quarta-feira à noite e, para completar, estava chovendo horrores. Mesmo assim ele foi. Impossível esquecer!”, reclama. Tanto fanatismo custou caro ao maridão: uma semana “de castigo”. “Nem adiantava ele se engraçar que eu não dava a mínima. Foi a maneira que encontrei de puni-lo”, afirma, com ar de satisfação.

Conciliar o relacionamento com a paixão nacional é mais complicado do que se imagina. Não é à toa que encontrar uma mulher que seja bonita, simpática, inteligente e que, ainda por cima, goste de futebol, é o sonho de dez entre dez homens. “Graças a Deus, aconteceu comigo”, festeja o estudante Bruno Cardoso. Noivo há dois anos de Carolina, Bruno não tem do que reclamar. “Antes mesmo de pensar em namorar com ela, eu já sabia que ela gostava de futebol. O Mário, irmão dela, é meu amigo de colégio e sempre que íamos ao Maracanã, ela ia também. Então, não foi difícil unir o útil ao agradável. Hoje em dia, vou ao estádio torcer pelo Mengão acompanhado da Carol. Não tem coisa melhor!!! E olha que ela entende mais do que muito marmanjo!!!”, garante ele. A paixão de Carolina pelo esporte tem uma explicação muito simples: desde pequena, o pai sempre fez questão de não levar apenas seu irmão aos estádios, mas ela também. Com o passar dos anos, a menina foi tomando gosto pela coisa e começou a acompanhar o irmão e os amigos. Não poderia dar em outra coisa: acabou noiva do Bruno.

Há também quem acompanhe apenas para agradar e, surpreendentemente, acabe gostando. A gerente de marketing Leila Medeiros virou tricolor fanática depois que conheceu Daniel, seu namorado há mais de três anos. “Ele falava com tanta empolgação que acabou me contagiando. E como sou perfeccionista em tudo, com o futebol não seria diferente. Não satisfeita em assistir aos jogos com ele, decidi aprender tudo sobre o assunto. Hoje, eu sou apaixonada por futebol, não perco um só jogo e dou até aula para as minhas amigas. O Gabriel, obviamente, não quer outra companhia que não seja eu”, comenta, orgulhosa. Mas Leila é exceção. Na prática, a única época em que homens e mulheres sentam juntos na frente da televisão pela mesma razão é durante a Copa do Mundo. Aí, não tem jeito, o país todo pára mesmo. Mas nem por isso a mulherada deixa de ouvir comentários do tipo: “Mulher só acompanha futebol em época de Copa do Mundo!!!”.

A fisioterapeuta Maria Clara Gonçalves, por exemplo, já ouviu a frase inúmeras vezes e garante que não está nem aí. “Sei que é verdade mesmo. Durante três anos não dou a mínima para futebol, só gosto de torcer mesmo quando o assunto é Copa do Mundo. Enquanto ela não chega, prefiro muito mais ir a uma praia e me divertir com minhas amigas do que ficar perdendo meu tempo vendo um jogo chato”, diz. Entre uma Copa e outra, Maria tem outra diversão: perturbar o marido nos dias de jogo do Flamengo. “O Daniel é fanático e, se por acaso fico em casa durante um jogo, torço contra mesmo. Ele fica uma mala quando o time dele tá jogando, fica na frente da TV e não pisca nem os olhos. Não tenho preferência por clube nenhum, como já disse só torço em época de Copa, mas como ele não me dá atenção, fico ‘secando’ só pra perturbar”, diverte-se.

Para os homens, pior que isso só mesmo quando as mulheres decidem opinar sobre o jogo sem entender nada sobre o assunto. “Poucas coisas são piores do que assistir a um jogo de futebol com mulher. Primeiro porque elas não te deixam quieto um minuto e, infelizmente, sempre procuram chamar a sua atenção nos momentos mais importantes da partida. Principalmente quando o seu time está na cara do gol. E quando elas começam a se confundir com as marcações? Confundem escanteio com lateral, avistam impedimentos inexistentes e, cheias de moral, como se entendessem do riscado, discutem se achando, literalmente, as donas das bola. E quando a mulher é histérica? Aí fica complicado. O goleiro bate o tiro de meta e elas, desesperadas, já acham que é quase gol. Só se for gol contra, né?”, desabafa o engenheiro Flávio Corrêa.

Conviver com esse “amante” é, normalmente, uma tarefa dolorosa para as mulheres e nem todas conseguem lidar com isso muito bem. Afinal, o que está acontecendo com a seleção brasileira ninguém sabe, mas se for obra de macumba feminina… está dando certo.