A Terra é plana? Entenda as polêmicas entre um rapper e um astrofísico

Quando Nicolau Copérnico defendeu com cálculos que a Terra não passaria de um pequeno astro num espaço infinito, no comecinho do século XVI, foi contra uma corrente de pensamento ligeiramente apontado pelos filósofos Aristóteles e Platão e corroborada pela Igreja Católica de que nosso planeta seria o centro do universo.

Essa linha de raciocínio, conhecida como geocentismo, foi dominante durante toda a Idade Média: para eles, a Terra até poderia ser uma circunferência, mas não executava nenhum movimento, já que astros e estrelas eram ‘estáticos’.

Copérnico deu o passo inicial para que Galileu Galilei, quase um século depois, observasse com um telescópio como a movimentação de planetas e astros só poderia ser compreendida, fisicamente, se a Terra fosse redonda.

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Mas, uma observação subverteu as teorias de que nosso planeta seria plano, ou geocêntrico: a de que o sol seria o corpo celeste central do Universo. Que os planetas girassem em torno dele – e que a Terra seria apenas mais um desses planetas.

Galileu, como se sabe, foi condenado pela Inquisição. Seus ensinamentos ajudaram o astrônomo alemão Johannes Kepler a ‘mapear’ os planetas e, posteriormente, o britânico Isaac Newton, entre os séculos XVII e XVIII, a chegar às leis de gravitação universal. Essa descoberta foi crucial no cálculo da movimentação dos corpos celestes no espaço e, inclusive, a detecção de uma força de atração que faz com que os planetas permaneçam em órbita.

Resumidamente, esta é a base científica que fundamenta o nosso sistema solar. É a base do que aprendemos na escola sobre a movimentação dos planetas – que, segundo essas descobertas, só poderia ser redondo.

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Terra plana vs. sistema solar

Nas últimas semanas, o rapper B.o.B. causou polêmica ao divulgar nas redes sociais de que a “Terra seria plana”. Segundo ele, a distância das cidades e de como vemos o sol não evidencia nenhuma ‘curvatura’ que o planeta pudesse ter.

Ele, claro, não é o primeiro a defender essa ideia. Uma organização chamada Flat Earth Society ( Sociedade da Terra Plana), criada há 10 anos, defende que o planeta seria como um disco, com um Círculo Ártico em seu centro.

O sol e a lua é que se movem em torno da Terra e não passam de esferas com cerca de 50km de extensão, que circulam num raio de 5 mil km em torno da planície. O que justificaria a existência de um eclipse é um corpo escondido, tido como uma ‘antilua’.

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As leis de gravidade de Newton são uma balela, e mesmo a Teoria da Relatividade de Einstein gera controvérsias aos membros da Sociedade da Terra Plana. A partir dessa linha de raciocínio, os objetos não são atraídos para a superfície; a partir de uma força misteriosa, chamada ‘energia escura’, a planície exerce uma impulsão mínima para diminuir o impacto de ‘corpos que caem’.

Mas o que realmente atrai novos defensores à ‘Terra plana’ é o argumento de que todas as viagens espaciais da Nasa e todos os cálculos realizados que comprovam a existência do sistema solar não passam de uma ‘conspiração’.

Eles se apoiam na ‘visão cética’ do filósofo francês René Descartes e nos experimentos realizados no nível de Bedford (Inglaterra), conduzidos no século XIX pelo inventor Samuel Rowbotham. Três anos antes de morrer, em 1881, Rowbotham divulgou um livro de 430 páginas chamado “ Astronomia Zetética” que reunia escritos justificando por que a Terra seria plana, “independentemente de todas as consequências, de fatos numerosos ou quaisquer fenômenos”.

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Uma das constatações sustentadas por Rowbotham era: basta observar a planície da água, “é reta”. Quando B.o.B. defendeu essa ideia, disse: “Não importa a altura da elevação em que você está… O horizonte sempre permanece no nível dos olhos”.

Segundo os defensores da Terra plana, a Nasa seria uma farsa, porque “logicamente custaria muito menos fingir um programa espacial do que realmente ter um”, como defendeu o website da Flat Earth Society.

A negação total das leis do universo fez com que o astrofísico Neil deGrasse Tyson se pronunciasse. O apresentador da série “Cosmos”, que trata de explicar as posições das estrelas e dos planetas a partir do heliocentrismo e das descobertas de Copérnico/Galilei/Kepler/Newton, criticou a falta de noção científica do rapper em suas declarações.

Como resposta, B.o.B. lançou o single “Flatline”, em que diz: ‘ Hah, sou paranoico? Pegue Malcolm X/Num quarto cheio de porcos’.

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O astrofísico também respondeu à altura e fez um rap. Pediu que seu sobrinho assumisse o microfone: ‘ São esses mesmos os seus pensamentos, ou ele só está falando alto?/Voo alto, mas você deve estar caminhando nas nuvens’.

A canção chama-se “Flat to Fact”:

Num programa de TV, deGrasse Tyson justificou sua insistência em contrapor B.o.B.: