A síndrome do segundo encontro

Bom papo, tiradas engraçadas, beijos fantásticos. O que mais uma mulher pode desejar em um primeiro encontro? Apenas algumas horas é muito pouco, por mais que tenham acabado de se conhecer, a convivência já é fantástica. Culpa de música e da vodca talvez. Na segunda saída, a coisa fica ainda melhor. A intimidade é maior e a conversa, mais animada. Já começam as trocas de confidências e a vontade de saber mais sobre o outro. Até a cor da cueca preferida vira um assunto relevante. O beijo então, nem se fala! A sintonia se torna quase perfeita. O encontro número dois é sempre bom. E a terceira vez? Bem, para alguns rapazes três já é demais. A síndrome do segundo encontro virou um terror para a população feminina e um recurso para os meninos que não querem se comprometer. E não tem Sherlock Holmes que dê jeito: eles somem mesmo!

Para a estudante Carla Vasconcelos amor à primeira vista era exclusividade dos filmes de Meg Ryan. O máximo que a menina tinha conseguido era um namorado a la Van Damme. Quando já  estava quase desistindo da coisa e entrando para um convento, eis que surge Daniel, bonito que nem Brad Pitt e tão encantador quanto Chico Buarque (tudo bem, ele não é ator, mas aqui vale a licença poética). Depois do primeiro encontro, em uma danceteria descolada, o sonho não acabou, já que marcaram uma segunda saída para o dia seguinte. Jantar romântico com direito a uma esticada em um lugar, digamos, mais íntimo. “Depois de uma noite incrível ele simplesmente nïo ligou mais! Fiquei quase um mês procurando uma explicação e nada. Cheguei a pensar que foi minha aparência matinal que não agradou. Sei lá, deve ser a tal síndrome do segundo encontro”, acredita Carla, que passou a apelidar seus casinhos de “seriado americano”, em que os melhores não passam da segunda temporada.

Benevolentes na primeira saída, os meninos ficam muito mais críticos no segundo encontro. Daí o índice de “terceiras vezes” ser tão baixo, acredita o estudante de Relações Internacionais, Rodrigo Nogueira. “Na empolgação da night, o refrão ‘não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem’ é o hino e todos os homens viram guerreiros. Batalha campal é pouco para definir. Nesse ambiente, pegamos o que vier. O segundo encontro é a prova de fogo. Se a menina for feia, chata ou não tiver nenhuma afinidade comigo não vejo motivo para uma terceira vez”, decreta. Temendo o rótulo de cafajeste (merecido, diriam as mais enfurecidas), o estudante faz questão de acrescentar: “Não ligo no dia seguinte, mas também não engano. Deixo claro pelos meus atos quando não tem nada a ver. A própria menina percebe”, garante.

Quando o encontro é um desastre, é fácil descobrir o motivo para a ligação do dia seguinte não acontecer. O problema é quando a noite é maravilhosa – pelo menos para um dos lados – e o retorno não vem. Uma das explicações é a timidez típica da segunda saída, revela o jornalista Marcos Guimarães. “A primeira vez em que fiquei com minha atual namorada foi em uma festa do trabalho dela. Já tínhamos bebido um pouco e tudo fluiu naturalmente. Fiquei empolgado e liguei para irmos nos encontrar em um barzinho. Foi muito chato. Ela ficou travada e não parecia muito empolgada comigo, diferente do que aconteceu na primeira vez. Decidi não ligar mais”, diz. No entanto, diferente da maioria, a história em questão teve um final feliz. “Ela perguntou a um amigo em comum se ele tinha notícias minhas, mostrando que estava interessada. Liguei e marquei uma nova saída. Como ela estava bem mais solta, foi muito melhor. Estamos juntos há oito meses”, conta.

Além dos motivos óbvios – como não ter gostado da aparência da pessoa e falta de afinidade – a psicóloga Mara de Oliveira acredita que outras razões menos aparentes estão por trás da síndrome do segundo encontro. Para a profissional, muitos homens têm medo de se entregar. “Soa um pouco brega, mas é realmente isso que acontece. Saindo com uma pessoa duas vezes, não há a necessidade de se mostrar como realmente é, com defeitos e qualidades. É mais prático criar um papel do que ser natural”, analisa. Pode até não ser o caso, mas repetir como um mantra que a terceira ligação não aconteceu porque o dito cujo é um poço de defeitos é um santo consolo!