Falas de homens avaliando e julgando corpo das mulheres são “comuns”, mas não deveriam

por | fev 7, 2023 | Comportamento

Recentemente no “BBB” 23, os participantes Cezar Black, Gustavo Benedeti e Cristian Vanelli protagonizaram uma conversa cujo tema é, infelizmente, muito comum entre homens.

Reunidos no quarto do líder, os três fizeram apontamentos sobre os corpos de outras participantes ao assistir enquanto elas trocavam de roupa nas câmeras – e, logo, a cena repercutiu negativamente nas redes sociais, motivando um debate forte sobre o impacto de falas como essas, que opinam sobre e classificam o corpo da mulher.

Falas machistas sobre mulheres no “BBB” geram revolta

Ao ver as participantes Bruna Griphao, Larissa Santos e Amanda Meirelles trocando de roupa no Quarto Deserto, três dos homens confinados no “Big Brother Brasil 23” protagonizaram recentemente uma cena que deu o que falar nas redes sociais.

Cristian, Cezar e Gustavo geraram polêmica no BBB23
Reprodução/Globoplay

Na ocasião, Cezar, Cristian e Gustavo fizeram inúmeros comentários sobre os corpos das “sisters”, apontando, por exemplo, supostos procedimentos estáticos no corpo de Larissa e “pedindo” que Amanda saísse da frente da câmera para que pudessem ver Bruna de biquíni.

“A Bruna é bem legal, mas é igual falei, a Larissa é ‘montadona’, é ‘lipada'”, disse Cezar, em referência à lipoaspiração que, segundo ele, a sister já disse ter feito. “E ela nem treina, a barriga dela não mudou em nada desde que ela entrou aqui. Já fez braço e silicone, que dá para ver”, concordou Gustavo.

Além disso, Cristian ainda questionou falas de Larissa sobre estar devendo dinheiro fora do reality, indicando que teria gastado demais com procedimentos, e debochou também do cabelo de Amanda. “E aí depois ela [Larissa] vem com ‘histórinha’ de que estava devendo […]. E Amanda mexendo no nariz. Tadinha. Cabelo de chihuahua. Yorkshire”, apontou, se referindo a raças de cachorros enquanto Cezar dava risada.

Ainda que ninguém na casa tenha presenciado a cena e de a situação ter acontecido antes da transmissão ao vivo, longe dos olhos de boa parte dos espectadores, as falas do trio não demoraram a viralizar nas redes sociais – e, especialmente no Twitter, internautas se dividiram.

Enquanto algumas pessoas, especialmente mulheres, se revoltaram, apontando a objetificação e as críticas descabidas sem que nenhuma delas tivesse pedido opiniões, outras apontaram que este comportamento é “normal”. Sendo algo “natural” dos homens, parte da “essência” deles, seria, portanto, ineficaz reclamar das falas ou combatê-las.

Além disso, houve também quem comentasse que, caso a situação fosse inversa, com as mulheres comentando o corpo dos homens, esta discussão não aconteceria.

Por que normalizamos falas assim?

Amanda, Bruna Griphao e Larissa
Reprodução/Globoplay

Conforme explica a psicóloga Alessandra Augusto, especializada em terapia sistêmica e cognitiva comportamental, comentários que normalizam a conversa vista pelo público no “BBB” 23 vêm de algo muito impregnado na sociedade.

Segundo ela, propor que a revolta não aconteceria caso fossem mulheres fazendo os comentários ignora o fato de o machismo ser algo latente em muitos outros âmbitos.

Mesmo com muitos avanços, a mulher ainda ganha menos que o homem exercendo as mesmas funções, seguem sendo mais julgadas por suas roupas, têm seus corpos sexualizados desde muito cedo – e, por isso, o peso de comentários feitos por homens tendem a ter mais peso, já que eles formam o grupo visto como “dominante” e, elas, o visto como “submisso”. A cena inversa, portanto, não traria na bagagem histórica de ser vista como um objeto sexual ou com a obrigação de ser submissa.

O fato de esta construção ser algo muito antigo, inclusive, é o que gera a normalização deste comportamento.

“Temos anos e anos de consequências do machismo que é reforçado pela frase: ‘Homem é assim mesmo’. Há homens que não querem ter comportamentos insensíveis, agressivos, imaturos ou que violam mulheres, então, não, homem não é ‘assim mesmo'”, pondera a especialista.

Aceitar discurso é prejudicial para todas

Cristian zombou do cabelo de Amanda no BBB 23
Reprodução/Globoplay

O ato de justificar certas condutas, para Alessandra, é uma autodefesa inconsciente. Não é fácil para mulheres, que dão à luz homens, aceitarem que são alvo de falta de respeito e chacota (e de forma injusta, já que o padrão de beleza feminino é naturalmente muito cruel).

Isso, no entanto, contribui para que comentários assim sigam acontecendo e garante força a padrões estéticos que mulheres se esforçam para atingir a ponto de arriscar a própria vida, bem como a segurança financeira. Por estes motivos, Alessandra explica que é essencial não deixar “passar em branco”.

“Comentários machistas não são naturais do gênero masculino, nem a violência que é falar do corpo do outro. A partir do momento em que mulheres acreditam no oposto, elas se desvalorizam. É preciso se responsabilizar ao ver situações e discursos de objetificação como o que aconteceu ‘BBB’, apoiando as mulheres que foram alvo, e não normalizar”, afirma a psicóloga.

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