Penélope Charmosa Moderna: história de uma apaixonada por carros antigos

O lugar predileto deles não é a rua, mas a garagem. Eles não andam, desfilam. Estamos falando dos carros antigos, relíquias que foram feitas para serem expostas como peças de um antiquário refinado e delicado. Os veículos do século passado despertam paixões e carregam um seleto público de seguidores. Quem não quer se sentir uma Farrah Fawcett, com um visual parecido usado pela atriz no filme “As Panteras”, desfilando seu corte de cabelo repicado pelas highways em um lindo e autêntico carro de época? Uma das adeptas deste sonho americano é a paulista Tânia Pereira. Ela é dona de três exemplares de relíquias da marca Dodge. “Eles são minhas obras de arte”, define.

Enquanto muitas mulheres ficam conhecidas por seus guarda-roupas, é a garagem de Tânia que define a sua personalidade. “Eu me sinto mais eu quando estou dentro dos meus carros, sabe? Quando estou ao volante de um deles, me sinto completa. É uma sensação diferente”, confessa. A adoração é tão grande que ela não se conteve em ter apenas um modelo do carro e coleciona três exemplares perfeitamente conservados de carros da marca Dodge, todos do início da década de 70.

Seguindo a teoria de quem tem um modelo de sapato para cada ocasião, a colecionadora diz ter muito orgulho da sua garagem repleta de carros antigos. “Já cheguei a ter quatro! E assumo que a minha vontade era de ter mais”, diz. Cada modelo tem um estilo e cores diferentes: o primeiro é um legítimo Dart do ano de 1969, na cor verde imperial; o segundo é o esportivo Charger, na cor Verde Minuano; e o caçula é um exemplar do Dart SE, de 1973, na cor Branco Ipanema.

Perfeccionista como a maioria das mulheres, ela conhece todos os detalhes dos seus brinquedinhos. ” O Dart foi um dos primeiros quinhentos exemplares montados no Brasil. Tenho até decorado o número do seu chassi! Já o Charger foi um dos raros modelos existentes na época. E o Dart SE é o carro standart mais potente fabricado no Brasil até hoje“, lista ela, com precisão. Além de saber tudo a respeito dos seus xodós, ela também conhece a história dos modelos da marca fabricados na época. “Sei exatamente quando foram montados e comemoro essas datas como se fossem aniversários”, exagera.

Foi o charme dos carros luxuosos que despertou o interesse da paulista. “Eles eram artigos de luxo na época em que foram fabricados, e continuam a ser até os dias atuais. Além da história, são veículos com personalidade, carisma, você sente um feeling diferente ao guiá-los. Os antigos moram no meu coração“, derrete-se. Adepta da velocidade e do arrojo, os robustos Dodges contrastam com o estereótipo delicado feminino. “Os homens me olhavam como se eu fosse uma estranha no ninho ao dirigir um carro destes, que é mais pesado e exige mais força. Foi só pisar fundo para surpreender a todos e ganhar muitos fãs.“, revela.

Tudo começou no ano de 1991: seu primeiro veículo foi um Dodge. Tecnicamente, um carro antigo deve ter mais de 30 anos de uso e, por isso, na época, ele se encaixava na categoria de velho para os outros. Mas nunca no coração de Tania. “Eu o usava como meio de transporte e tive que aprender muito. Mas foi justamente isso que fez com que me apaixonasse completamente”, lembra. A partir da experiência, cursou Engenharia mecânica “muito mal intencionada”, como ela mesma diz, para trabalhar com a sua paixão. Hoje, Tania é empresária do ramo do antigomodelismo e possui uma empresa que importa carros antigos e peças de manutenção para os veículos. “Faço parte deste mundo. Trabalho com isso, meus amigos vieram através dos meus carros. E até conheci o meu namorado nesse meio. Meu hobby é brincar com esse universo“, conta ela, que já ganhou diversos prêmios em feiras de carros antigos com suas belezuras.

E a moça não se cansa. Depois de horas na sua empresa praticando o antigomodelismo, a melhor hora do dia é quando chega em casa e revê seus queridinhos. “É uma terapia. Em alguns dias volto para casa precisando dar uma volta em um dos meus Dodges para simplesmente relaxar: retorno renovada, pois eles me trazem uma energia muito boa”, afirma Tânia, que utiliza os carros em ocasiões especiais. ” Não é qualquer lugar que está à altura de uma visita deles. Tenho meu carro de passeio para resolver as coisas da rotina. Gosto dele, mas não se compara aos Dodges“, brinca.

E não pense que é fácil: a paixão por um carro antigo vem acompanhada por uma série de cuidados. Para qualquer reparo, Tânia só confia seus Dodges na mão de um mecânico que, além da habilidade, é seu amigo pessoal. “É como deixar meu filho na casa de alguém”, compara ela, que também evita levar caronas. “Se alguém bater a porta com força, por exemplo, fico muito enciumada”, esbraveja. Em outra oportunidade, no entanto, houve uma exceção e a família se uniu. ” Fizemos uma viagem de 1.500km até o Mato Grosso do Sul. Foi uma sensação maravilhosa“, relembra.

Assim como a nécessaire que carrega seus itens de beleza, Tânia conta quais são os itens críticos de cada carrinho. “Não adianta ter um carro desses e não cuidar. São obras de arte e precisam estar sempre conservadas. É essencial ter uma capa para proteger do pó e artigos para limpeza, que serão usados para qualquer imprevisto. Assim como cuido de mim, cuido dele”, compara. E o amor que nutre pelos seus Dodges ultrapassa todas as barreiras. Afinal, após anos servindo ao homem, levando-o de um lado a outro, chegou a hora desses veículos serem paparicados. E por uma mulher, melhor ainda. Não é, Tânia? “Eu é que sirvo a eles. Penso em todos os detalhes para conservá-los para mais 30 ou 50 anos. São relíquias“, conclui a apaixonada.