Perfis de crianças nas redes sociais são comuns, mas podem afetar até mesmo a constituição da personalidade
Recentemente, o funkeiro MC Ryan foi exposto em um vídeo no qual aparece dando um chute na direção da namorada, Giovanna Roque. Com a repercussão, ambos restringiram os comentários em postagens do Instagram – e, conforme internautas migraram para o perfil da filha do casal, que tem 9 meses de vida, a situação levantou questões relacionadas à privacidade de crianças na internet.
Afinal, é seguro criar perfis para crianças muito pequenas? Em que essa exposição pode acarretar futuramente? Entenda abaixo:
Caso de MC Ryan e namorada gera alerta sobre criança nas redes sociais
Em agosto de 2024, o funkeiro MC Ryan foi visto em imagens perturbadoras. Em um vídeo divulgado pelo colunista Leo Dias, o músico apareceu dando chutes na direção da namorada, Giovanna Roque, que estava sentada no chão. Conforme as imagens vieram a público, ambos se pronunciaram em meio a grande comoção nas redes sociais.
No Instagram, Ryan pediu desculpas à namorada e à filha. “Queria começar pedindo perdão à Giovanna, à minha filha, à mãe da Giovanna, à minha mãe e a todas as mulheres. Não fui um cara leal à minha família, não fui leal no meu relacionamento. Dei brecha para que acontecesse certos tipos de coisas que fugiram do meu controle, do controle da minha companheira”, disse ele.
Já Giovanna afirmou que, no dia, “Ryan tinha aprontado”, e que ela ficou nervosa com a situação. “Quebrei o telefone dele, parti para cima. Aí ele ficou muito nervoso e veio pra cima de mim também. A gente deu abertura pro inimigo, isso nunca aconteceu antes”, declarou ela, que segue junto do funkeiro.
As imagens são de abril de 2024 e, conforme vieram à tona, muita gente passou a opinar sobre o assunto. Isso inclui, por exemplo, internautas cobrando que Giovanna se separe dele pelo bem da filha dos dois, a pequena Zoe, de 9 meses. Diante das opiniões, o casal trancou os comentários dos posts nas respectivas redes sociais.
Isso, no entanto, fez com que houvesse uma migração. Sem poder comentar nas redes sociais dos dois, internautas buscaram o perfil de Zoe no Instagram, e passaram a expressar suas opiniões ali.
“Giovanna, o que passa na sua cabeça de ainda estar com um homem que te agrediu?”, questionou uma internauta em uma foto que retrata a pequena. “Olha aí o agressor”, disse outro perfil em uma galeria na qual Ryan aparece. “Ame sua filha, não macho”, afirmou outro perfil. “Coitada dessa criança, vai crescer vendo agressão”, pontuou mais um.
Criança nas redes sociais: perigos
É extremamente comum atualmente encontrar perfis de bebês no Instagram. Esses perfis são criados por adultos para retratar momentos fofos e o dia a dia das crianças, algo especialmente popular entre famosos. Apesar de isso ser visto com naturalidade, porém, a situação esbarra em um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Segundo o artigo 17 do ECA, crianças têm o direito inviolável a “integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. Mas, afinal, se perfis de crianças nas redes sociais vão na contramão do que diz a lei, por que são tão comuns e celebrados? Eles geram riscos para crianças?
Segundo a psicóloga clínica da infância e adolescência Joyce Isabel Máximo dos Santos, responsável pelo atendimento infantojuvenil do Espaço Psicontemplando, no Rio de Janeiro, a situação é complexa.
Conforme explica a especialista, o direito da criança a privacidade e preservação de imagem é ignorado atualmente. Isso se deve, segundo ela, à dinâmica do público com as redes sociais. “A exposição de tudo o que fazemos virou algo crônico na sociedade. Consequentemente, os pais farão isso com os filhos. O consumo desse tipo de conteúdo atrai cada vez mais diversos tipos de públicos”, aponta a psicóloga.
Ainda de acordo com ela, criar um perfil aberto para uma criança nas redes sociais pode ser prejudicial no futuro. Isso porque, desde cedo, a situação pode levar a dependência dos pais para aprovação, falhas na noção de privacidade e até problemas na construção da personalidade. No futuro, todos esses pontos têm consequências.
Uma criança que cresce dessa forma pode, por exemplo, não perceber que sua privacidade está sendo invadida em determinadas situações. Além disso, a pressão para seguir o “personagem” instituído pelos pais desde cedo pode trazer problemas de autoestima e autonomia.
Além disso, a exposição de fotos de crianças em redes sociais pode alimentar práticas nocivas e criminosas com relação a elas.
O que fazer diante de perfis de crianças na web
Ainda que sejam atrativos devido às fotos fofas e ocasionalmente até dicas de criação, a psicóloga orienta a não seguir perfis de crianças no Instagram ou outras redes sociais, e muito menos engajar em comentários. “Isso ajuda a contribuir com a privacidade desses seres que ainda não têm noção da realidade”, declara ela.
Além disso, indica-se que pais preservem ao máximo a privacidade de seus filhos. Publicar registros em forma de lembranças e homenagens, por exemplo, não é um problema, mas é preciso tomar precauções para não “disponibilizar a criança ao mundo” nesse cenário. Também indica-se incentivar a autonomia da criança, sem depositar nelas a expectativa de seguir uma “persona”.