Ter amigo imaginário é saudável se a fantasia não esconder algo grave: como investigar?

A infância costuma andar de mãos dadas com a criatividade – habilidade fundamental em vários aspectos da vida -, assim como muita energia para brincar: dessa forma, não é difícil encontrar pequenos que dizem ter um amigo imaginário.

Em tal mundo da fantasia, o “companheiro” costuma ser mais constante, com quem a criança se comunica como se tivesse muita proximidade, o que auxilia no desenvolvimento cognitivo e aptidões sociais. Contudo, permitir que ela mergulhe totalmente na brincadeira também pode trazer sinais de alerta. Entenda mais abaixo.

O que significa ter um amigo imaginário?

De acordo com a psicanálise, na camada mais profunda da nossa mente existe o chamado ” inconsciente coletivo“, que conta com imagens e vivências comuns aos seres humanos de todas as épocas. Dessa forma, o possível amigo surge espontaneamente para algumas crianças – já que somos seres naturalmente sociáveis -, mesmo que as características não sejam bem definidas: ele pode ter aparência de uma pessoa, um ser fantástico ou mesmo de um boneco disforme.

Embora o significado seja individual, é possível categorizar os casos mais comuns vistos na infância, segundo Luiz Mafle, psicólogo e doutor em Psicologia pela PUC Minas e Universidade de Genebra.

“Se o amigo é uma criança, pode ser que o pequeno não consiga expressar tudo de si mesmo, ou que ele tenha uma carência de contato com outras pessoas da mesma idade. No caso de um adulto, possivelmente representa um aspecto de ‘sabedoria’ da personalidade, mas também a ausência de referências adultas que tragam acolhimento”, explica ele.

Entretanto, o mais importante é perceber a qualidade da “relação” para a criança. “Se a brincadeira é viva, se existe medo, se traz formas de pensar ou se impulsiona a agir. Tudo bem se a criança não quiser contar sobre quem conversa, mas fique atento à possibilidade do amigo parecer um inimigo, indicando que algo grave pode estar acontecendo”, pontua o psicólogo.

É saudável ter amigo imaginário?

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O fato é que algumas brincadeiras com a fantasia podem levar a criança a agir de forma arriscada, como pular de um armário, cama e até da janela, desconectando-a do mundo real. “Mas, na maioria das vezes, essa imaginação é o que impulsiona a personalidade a se desenvolver de forma saudável e se apropriar do mundo adulto e real”, afirma o profissional.

De toda forma, por mais que a criatividade deva ser estimulada na infância, é preciso ter cautela não somente com danos à saúde física da criança, mas também ao tamanho do espaço de sentimentos como sofrimento, tristeza e dor, por exemplo, dentro da brincadeira.

“Vale a pena investigar se ela não está sofrendo maus-tratos, pois algumas crianças representam na fantasia aquilo que experimentaram no dia a dia”, conclui Luiz.

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