Dietas na balança

Atire a primeira pedra quem nunca precisou – ou achou que precisava – fechar a boca para perder uns quilinhos extras. Embora a maioria não confesse, o sonho de todas nós ainda é manter o corpinho em forma, nem que para isso seja preciso provocar uma revolução em nosso cardápio. O problema é que aparecem por aí os mais estranhos tipos de dieta, que prometem perda de peso rápida, sem muito esforço, como num passe de mágica. E lá se vai uma legião de seguidoras testar os novos métodos da moda. E dá-lhe variedade! Dieta do atum, da sopa, da ervilha, Mediterrânea, South Beach, Dr. Atkins, tipo sangüíneo, DNA… Mas será que, apesar de fazer sofrer e passar fome, elas realmente surtem algum efeito? O Bolsa conversou com três especialistas para saber se vale a pena tanto sacrifício.

Entre os tipos de dieta mais comuns alardeados por aí, três são realmente polêmicos. A hipocalórica, por exemplo, é baseada em uma restrição quase xiita de calorias. São as dietas de líquido e de jejum total, que podem até ajudar a limpar o organismo, mas não surtem nenhum efeito sobre o peso, porque no dia seguinte vai dar vontade até de comer os móveis. As dietas com desequilíbrio nutritivo, por sua vez, são aquelas que obrigam a ingestão de um único alimento, fazendo com que vários nutrientes façam falta para o organismo. Tem também as dietas de contagem de calorias, que fazem com que a pessoa até perca algum peso, mas depois de um tempo não veja mais efeito algum.

E quem é que nunca passou pelo famoso efeito sanfona. Ele é o resultado mais freqüente da maioria das dietas, principalmente aquelas realizadas sem orientação médica. Como não dá para seguir nenhuma delas por muito tempo, logo depois a pessoa acaba recuperando todo o peso perdido. E aí, três alternativas passam pela cabeça dela: desistir, começar outra ou juntar várias dietas em uma só, criando sua própria poção mágica. Só que, para adotar novos hábitos alimentares, é preciso muito mais do que isso: tem de haver consciência do que se está fazendo com o organismo. Portanto, antes de decidir qual caminho seguir, confira a opinião de quem entende do assunto sobre as principais dietas que vêm fazendo a cabeça (e o corpo) de muita gente:

Dieta do Atum – Essa dieta é exclusiva para quem é muito fã, aliás, muito apaixonado por atum. Isso porque ela recomenda o consumo de várias porções enlatadas desse peixe, em todas as refeições. “Como a base dessa dieta é um só tipo de alimento, há carência de nutrientes, como carboidratos, cálcio e ferro. Além disso, a pessoa corre o risco de enjoar”, comenta a nutróloga Paula Cabral, da Clínica Hagla, no Rio de Janeiro.

Dieta da USP – Pouca gente sabe que, apesar do nome cheio de credibilidade, essa dieta não foi criada pela Universidade de São Paulo. Ela proíbe totalmente a ingestão de carboidratos, dando preferência apenas a gorduras e proteínas. “É uma dieta perigosa, por causa do alto consumo desses ingredientes”, diz Paula Cabral. É bom lembrar que gordura em excesso faz mal ao coração. Isso significa que as chances de arranjar um problema cardíaco ficam bem maiores.

Dieta da Ervilha – Já pensou em comer só ervilha em todas as refeições? Pois é. Essa é a idéia. No primeiro dia, come-se uma ervilha. No segundo, duas. No terceiro, três. E assim por diante, até chegar ao décimo dia. É considerada, pela maioria dos especialistas, como a dieta mais extravagante que existe. E sem graça nenhuma, também. Esse cardápio pode render, além de anemia, um belo quadro de desnutrição.

Dieta da Sopa – Mesmo sendo preparada com diversos legumes, como cenoura, pimentão e repolho, ainda é pobre em nutrientes. A recomendação é permanecer à base de sopa durante uma semana, em todas as refeições. Como acontece em toda dieta líquida, o organismo começa a economizar energia, mantendo a gordura e eliminado água e sais minerais. É possível até perder peso, mas logo em seguida vêm os sintomas: cansaço, falta de disposição e preguiça. Para recuperar as energias, só mesmo voltando a comer normalmente.

Dieta do Dr. Atkins – Criada pelo cardiologista americano Robert Atkins, ela permite o consumo livre de gorduras e proteínas, mas proíbe carboidratos e açúcares. O resultado: colesterol nas alturas e aumento da probabilidade de doenças cardíacas. “A restrição dos carboidratos promove uma queda da energia e da disposição. Além disso, é pobre em fibras, o que dificulta a digestão dos alimentos, e eleva os níveis de colesterol e ácido úrico. Eu diria que os efeitos dessa dieta são ilusórios”, afirma Lucilene Andrade, nutricionista da rede de produtos naturais Mundo Verde. “Além disso, os carboidratos são muito importantes para o organismo, porque o sistema nervoso central é alimentado pela glicose neles contida”.

Dieta do Tipo Sangüíneo – Afirma que existem alimentos ideais para cada tipo sangüíneo, com o objetivo de manter a saúde. No entanto, essa teoria ainda não encontrou respaldo científico. “Não há estudos que comprovem a eficácia dessa dieta. Não é por causa do tipo sangüíneo que teremos metabolismos diferentes”, assinala a nutricionista Priscila Maximino, da Nutrociência Assessoria em Nutrologia, em São Paulo.

Beverly Hills – Também conhecida como “dieta do abacaxi”, ficou famosa por ter sido adotada por estrelas de Hollywood. A base é a ingestão de grandes quantidades de frutas em todas as refeições. No entanto, ficam faltando vários nutrientes, como proteínas, cálcio e ferro, por exemplo. “Frutas são fundamentais na dieta, mas o máximo que alguém consegue ficar nessas condições é de uns três dias. Isso leva a um estresse, porque há falta de proteínas e gorduras, que são essenciais para algumas funções do organismo, como o transporte de vitaminas”, explica Lucilene Andrade. A nutricionista Priscila concorda. “Pode ser prejudicial, porque a pessoa exclui outras frutas, que são fontes de outras vitaminas”, diz. A dieta tem um outro porém: dá uma fome enorme e provoca uma louca vontade de comer alguns alimentos proibidos.

South Beach – Essa dieta é composta de três fases. Na primeira, ingestão de pouco carboidrato e muita proteína e gordura, podendo perder até seis quilos. Na segunda, só carboidratos, para perder até meio quilo. Na terceira, é possível ingerir outros alimentos, como verduras e legumes. Mas até aí, o organismo já pode estar debilitado. E as chances de comprometer a saúde são muito sérias. “É uma dieta do Dr. Atkins passada a limpo, porém com o bom senso de explicar tipos de gorduras e carboidratos”, diz Lucilene. Já Paula Cabral acredita que ela pode funcionar. “A diferença é que esta introduz gradativamente outros nutrientes, tendo mais chances de sucesso”, comenta.

Mediterrânea – Adotada há mais de quatro mil anos pelos países da região do Mar Mediterrâneo, como Itália, França, Grécia e Espanha, é apontada como uma das mais saudáveis do mundo. A dieta não faz restrição de quase nada. É permitido comer legumes, tomate, frutas, nozes, alho, óleos, careais, sementes, queijo branco, iogurte e até vinho. Em comparação à alimentação brasileira, ela é bem light. Só para se ter uma idéia, as refeições mediterrâneas têm apenas 8% de gordura, enquanto as nossas levam até 35%. No entanto, há muitos ingredientes preconizados pela dieta que são muito caros ou não podem ser encontrados no Brasil. “A substituição por outros produtos pode não dar certo. É importante lembrar que o clima e os hábitos diários do povo mediterrâneo são bem diferentes dos daqui”, alerta a nutróloga Paula Cabral.

Dieta do DNA – Ainda sem estudos científicos que comprovem seus resultados, ela vem sendo divulgada como uma nova e original maneira de perder peso: adotar um cardápio com base no material genético, através de uma ciência chamada nutrigenômica. É considerada promissora e interessante pelas especialistas, mas a pessoa pode encontrar dificuldade em se adaptar e em restringir alguns alimentos.

É, como foi dito, o que não falta é opção de dieta. No entanto, por mais que uma delas tenha funcionado com alguém que você conhece, o que deve prevalecer é o bom senso. E como lidar com a saúde não é brincadeira, o primeiro passo, claro, é sempre consultar um médico ou nutricionista. “Todas as dietas são específicas para um público-alvo. Mas isso não quer dizer que vá funcionar com toda a população. E o mais deletério dessas dietas da moda é que elas não ensinam a comer. Por isso, o acompanhamento individualizado ainda é a melhor forma de perder peso”, ensina Priscila Maximino.

Ah, e não se pode esquecer de um poderoso aliado da perda de peso: o exercício físico, que deve ser praticado regularmente. Então, para mandar embora para sempre aqueles pontos extras na balança, que tal deixar para trás os modismos e começar a pensar seriamente em uma boa reeducação alimentar?